segunda-feira, 28 de junho de 2010

COMO VENCER A ANSIEDADE?

Texto: Mt. 6: 25-34

È bem verdade que o comer, o beber e o vestir, são três coisas essências para todo e qualquer ser humano. Mas será que isso deve ser a nossa máxima prioridade? Será que devemos ficar ansiosos por obter com toda prioridade estas coisas? Será que o comer, o beber e o vestir é nossa mais importante prioridade?
A.T – Para muitas pessoas sim, mas para os servos de Deus não! Jesus nosso Senhor nos aconselha em sua palavra a não ficarmos ansiosos por cousa alguma.
S.T – A pergunta é: Como vencer a ansiedade?

I. Em primeiro lugar, observando o amor de Deus por sua criação
(a). Devemos observar a maneira como Deus sustenta todas as coisas – v. 26b
1. Ele sustenta a vida animal – v. 26c
2. Ele sustenta a vida vegetal – v. 28, 30
3. Ele sustenta a vida humana – 27, 29
 Somos mais valiosos do que as aves
 Somos mais valiosos do que a natureza
 Somos a coroa da criação de Deus

II. Em segundo lugar, considerando a sabedoria e o poder de Deus
(a). Quando ficamos ansiosos e preocupados com o dia de amanhã, estamos demonstrando que não confiamos na sabedoria e no poder de Deus.
1. A falta de fé no Deus que tudo sabe e que tudo pode nos levará a termos uma vida opaca e desmotivada. Isso é uma das causas da ansiedade e preocupação!
2. A falta de fé no Deus que tudo sabe e que tudo pode demonstra o quanto estamos nos parecendo com os incrédulos.
 Os descrentes vivem desesperadamente em busca de um acumulo de bens matérias, como sem a comida e o vestuário fossem tudo na vida.
 Os cristãos são diferentes, pois sabem que tem um Pai celestial que sabe das necessidades básicas de todos.

III. Em terceiro lugar, buscando os interesses de Deus em primeiro lugar – v. 33
(a). Significa dar a Deus a mais alta prioridade de nossa vida.
1. Vivendo uma vida cheia do Espírito Santo
 Pois, este reino não é comida e bebida, mas justiça e paz e alegria no Espírito Santo - Rm. 14: 17
2. Vivendo uma vida separada das coisas do mundo
(b). Significa viver uma vida sem inquietudes (preocupações exageradas) – v. 34
1. A inquietação vai trazer problemas psicológicos
2. A inquietação vai trazer problemas fisiológicos
3. A inquietação vai trazer problemas espirituais

Conclusão
Quando vivemos uma vida ansiosa, e cheia de preocupações: estamos desatentos ao amor e a preocupação que Deus tem por nós; estamos desconsiderando a sabedoria e o poder de Deus em suprir todas as nossas necessidades; estamos buscando mais os nossos interesses do que os de Deus, para nossa vida.Por esta razão,descansemos em Deus e confiemos em sua Santa Providência.

Exraido do sermonário do Rev. Edvaldo Miranda

sábado, 26 de junho de 2010

FESTAS JUNINAS: DEVEM OS CRENTES (E OS SEUS FILHOS) PARTICIPAREM?

por Rev. Magno Paterline

“Não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo, constitui-se inimigo de Deus.” (Tiago 4:4)
Iniciamos o mês de junho. É comum em nosso país, nesta época do ano, as chamadas “Festas Juninas”. As associações de bairros, as entidades assistenciais de promoção humana, as escolas, quer públicas ou particulares, ensinam as crianças, aos jovens e adolescentes que estas festas refletem apenas um aspecto de nossa “cultura brasileira”. O ritimo do forró, as roupas caipiras, as guloseimas, a fogueira, os fogos de artifício, as bandeirolas, o quentão, adornam essa festa tão tradicional por todo o país. Embalados pela estação fria dessa típica época do ano, as pessoas dançam ao redor das fogueiras, como algo meramente “cultural”.

Todavia, nós os crentes em Jesus Cristo, sabemos (sem hipocrisia!) que a nossa “cultura” está imersa do lôdo e no lamaçal da idolatria, do misticismo, da mentira e do engano. Basta observamos a fundamentação dos nossos principais feriados e festividades: “carnaval – festa da carnalidade”; “corpus crist – culto e veneração a história católica romana”; “festas juninas” – Louvor e adoração aos santos “canonizados” por Roma: dia 13 – “Santo Antônio”, dia 24 – “São João” e 29 – “São Pedro”.

Pergunta-se: Devem os crentes em Jesus participarem das chamadas “festas juninas”? Não! Mil vezes, não! Seria bíblico para alguém que professou fidelidade as Palavras de Jesus Cristo, participar de quermesses em louvor ao “santo casamenteiro”? (Santo Antonio), ao santo que tem “as chaves do céu” e que foi considerado pela tradição romana como o primeiro “papa” da Igreja? (São Pedro).
Evitar o escândalo é atitude de um servo do Deus vivo, de um coração alicerçado na primeira palavra de Deus, de uma alma que se eleva para adorar a Deus em um sacrifício vivo, santo e agradável, que é o nosso culto racional (Romanos 12:1).
Disse o Senhor Jesus que o escândalo vem, mas Ele mesmo acrescentou: “Ai do homem pelo qual vem o escândalo” (Matus 17:2). “Melhor fora que se pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho, e fosse atirado ao mar, do que fazer tropeçar estes pequeninos”. (Lucas 17:2).

O que é escândalo”? É tudo aquilo que resulta de erro e de pecado obstinado, provocado por um mau exemplo e que transgrida finalmente os padrões estabelecidos pela Palavra de Deus. O termo origina-se do grego “Skándalon”, significado “tropeço”; “pedra em que se tropeça”.
Escândalo, é um ato exterior que é ou aparece como mau, capaz de exercer uma influência moralmente prejudicial ao comportamento.

É bom que atentemos as palavras do salmista que dizia: “Não sejam envergonhados por minha causa os que esperam em ti, ó Senhor, Deus dos Exércitos, nem por minha causa sofram vexames dos que te buscam, ó Deus de Israel”. (Salmo 69:6).
Indubitavelmente, o lugar dos nossos filhos não é nas “tradicionais” festas juninas.
Bom é que façamos recordar os nossos corações, as Palavras de oração do Pai Nosso:”…e não nos deixes cair em tentação, mas, livra-nos do mal.” (Mateus 6:13).
Que a sua vida (e a de seus filhos), seja inteiramente para o louvor do Eterno e Bendito Salvador.

A Ele toda a Glória!

Extraído de: www.ipcg.org.br/ipcg/?p=673

PORQUE NÃO FALAMOS EM LÍNGUAS

por Dr. Jay E. Adams

A resposta? Simplesmente é esta: Nós não falamos em línguas porque não é bíblico assim fazer.

"Mas, no Novo Testamento as pessoas não falavam em línguas? Isto não faz dela uma prática bíblica?"


Não. Algumas coisas na Bíblia pertencem a pessoas e tempos especiais; não a nós. Jesus ressuscitou dos mortos e os apóstolos manejaram miraculosamente serpentes mortais sem dano algum; mas nós não podemos fazer estas coisas hoje.

O Que as Línguas Eram

A palavra línguas, na Bíblia, significa idiomas. Falar em outras línguas (note o plural; a Escritura não está falando de algum idioma celestial) é a capacidade de pregar em idiomas estrangeiros sem ter estudado ou aprendido os mesmos (Atos 2:8-11). Os dons miraculosos do Espírito Santo capacitaram os apóstolos, em seus dias, a ensinarem pessoas de muitas nações. Você pode ver, então, como Paulo claramente disse, que as línguas tinham um propósito evangelístico: “as línguas são um sinal, não para aqueles que crêem, mas para os incrédulos” (1 Coríntios 14:22).

Porque isto é verdade, um idioma não deve ser usado numa congregação que fala outro idioma. Aparte da interpretação, o falar em línguas estrangeiras não edifica. E o propósito principal de Paulo nestes capítulos é enfatizar que todos as coisas devem ser feitas para edificar (ou fortalecer) os outros - 1 Coríntios 14:26b. Usá-las na igreja era inadequado e inconveniente, visto que elas deviam ser interpretadas.

Porque as Línguas Cessaram

Deus nunca intentou que o falar em línguas continuasse indefinidamente. Paulo expressamente escreveu: “as línguas cessarão” (1 Coríntios 13:8). O esforço evangelístico que estabeleceu a igreja primitiva em todo o mundo Mediterrâneo, foi realizado sob a liderança dos apóstolos. Os ofícios apostólicos e proféticos eram revelatórios (Efésios 3:5). Isto é o mesmo que dizer que, durante o período no qual o Novo Testamento estava sendo escrito, ambos recebiam a verdade diretamente de Deus. Os apóstolos foram enviados com o evangelho, enquanto os profetas pareciam ter sido assistentes apostólicos. A revelação que eles receberam foi registrada nos livros que chamamos o Novo Testamento.

Não somente os dons miraculosos capacitaram os apóstolos a pregarem em muitos idiomas que eles não conheciam, mas estes dons também atestaram sua comissão apostólica (2 Coríntios 12:12), assim como os feitos miraculosos atestaram a obra evagelística de Jesus (Atos 2:2). Além do mais, pelos dons extraordinários, Deus confirmou os escritos dos apóstolos (Hebreus 2:2-4). Quando a escrita das Escrituras se completou, sua autoria não necessitava de confirmação adicional.

Foi somente durante o lançamento dos fundamentos da igreja que os dons miraculosos eram necessários. Os ofícios de apóstolo e profeta, sobre quem Deus depositou estes dons, cessaram quando este fundamento foi lançado. Isto é claro a partir de Efésios 2:20. Um fundamento é lançado somente no princípio; ele não se estende até às paredes ou ao texto!

Quando Paulo disse que os dons especiais eram “os sinais de um verdadeiro apóstolo” (2 Coríntios 12:12), ele certamente implicou que nem todos os cristãos os possuem. Era somente os apóstolos, e aqueles a quem eles transmitiram (Atos 19:6,7; Romanos 1:11), que possuíram estes dons.

Suponha que eu dissesse “Nossa igreja se reúne numa casa, no bloco 200, da Avenida Central - você não pode deixar de encontrar; simplesmente olhe para o sinal”. Mas, quando você chega, cada casa parece semelhante e todas têm sinais similares! Este sinal seria inútil; ele não mais seria um sinal. Se após o pentecoste judeu e o pentecoste gentio (Atos 2:10), quando o Espírito Santo veio diretamente, os dons eram mediados somente pelos apóstolos (Atos 8:17,18; 19:6,7), então, eles deveriam ser deveras um sinal dos verdadeiros apóstolos (2 Coríntios 12:12). Mas somente assim. Se alguém pudesse, de si mesmo, obter dons de Deus, aparte dos apóstolos, então, as línguas seriam um sinal para ajudar a identificar um verdadeiro apóstolo, tanto quanto os sinais na Avenida Central.

Não, os sinais e maravilhas pertenceram ao período fundacional da igreja - um período, presumidamente, que aqueles que ensinam outra coisa parecem não reconhecer (embora o próprio Paulo faça alusão a isso em Efésios 2:20). Eles não têm mais lugar na igreja hoje do que a continuação da escrita da Bíblia. Você pode assumir, portanto, que não importa quão bem intencionadas as pessoas que reivindicam o dom de línguas possam ser, elas têm enganado a si mesmas sobre o assunto. Não importa a sinceridade delas ou o “balbuciar celestial” que elas possam parecer falar.

Não busque, ore ou espere dons miraculosos hoje. Não há garantia para assim o fazer. Foque sua atenção, ao invés disso, nas Escrituras e nAquele de Quem elas falam. Nele (Jesus Cristo) somente, está o majestoso poder de Deus, depositado e demonstrado.


Extraído de: www.monergismo.com

FALANDO EM LÍNGUAS

por W. E. Best

Leia Atos 2 e 1 Coríntios 14. Esses dois capítulos são a porção principal da Escritura que trata com o assunto das línguas. A palavra grega glossa não pode refletir tanto expressões extáticas como idiomas estrangeiros. Ela é usada para o órgão físico que emite sons conhecidos e audíveis de vários idiomas e dialetos humanos. Em Atos 2:1- 11, a referência é à diferentes idiomas de diferentes países.

O falar em línguas praticado entre os religiosos está no topo da lista da atividade demoníaca. Os demônios falam: “Quando vos disserem: Consultai os necromantes e os adivinhos, que chilreiam e murmuram entre dentes; — não recorrerá um povo ao seu Deus? A favor dos vivos interrogar-se-ão os mortos? À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, nunca verão a alva. E passarão pela terra duramente oprimidos e famintos; e será que, tendo fome e enfurecendo-se, então, amaldiçoarão ao seu rei e ao seu Deus, olhando para cima, olhando para a terra, eis que haverá angústia e escuridão, e serão entenebrecidos com ânsias e arrastados para a escuridão” (Isaías 8:19-22). Demônios operam como ventríloquos. “Médiuns” traduzido para o grego dá a conotação de ventríloquos. Esses demônios são descritos como necromantes ou magos que chilreiam e murmuram (v. 19). Um mago é um médium possuído por demônio. “Mago” significa “muito conhecimento”; portanto, os demônios têm inteligência sobrenatural. Seu chilreio são sons baixos; e sua murmuração são sons altos; mas esses sons não são fabricados por eles.

Paulo procurou corrigir um conceito exagerado do dom de “línguas” (idiomas). A importância relativa das “línguas” (idiomas) aparece no fato delas serem mencionadas em apenas uma das epístolas às assembléias (1 Coríntios 12-14) e Corinto era a única assembléia dita ser carnal (1 Coríntios 3). Em cada uma das listas de dons, o idioma está no final, chamando a atenção para a sua importância menor. O dom de idiomas não era para todas as pessoas (1 Coríntios 12:8-10, 30). Toda referência a idiomas em 1 Coríntios 14:1-28 é comparada desfavoravelmente com profecia. Paulo advertiu aqueles que desejavam idiomas de sua impotência (14:21) e de seu pequeno ou nenhum benefício para a assembléia (1 Coríntios 14:2, 4-6, 9, 16, 19, 22, 23, 28). A recomendação mais alta do apóstolo do dom de idiomas era negativa (1 Coríntios 14:39).

No Novo Testamento, milagres, maravilhas e sinais foram dados para confirmar a palavra de Deus. Jesus Cristo foi confirmado por milagres, maravilhas e sinais: “Varões israelitas, escutai estas palavras: A Jesus Nazareno, varão aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis” (Atos 2:22). Ele prometeu aos discípulos que eles e sua mensagem seria confirmada por sinais: “ E estes sinais acompanharão [futuro ativo indicativo de parakoloutheo] aos que crerem: em meu nome, expulsarão demônios; falarão novas línguas [idiomas]; pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e imporão as mãos sobre os enfermos e os curarão” (Marcos 16:17,18). Você é um crente. Esses sinais te seguem? Algumas promessas de Deus são condicionais, e outras são incondicionais. As promessas incondicionais são as que Deus predeterminou para realizar o Seu propósito eterno. As promessas condicionais são dependentes do que os recipientes de graça fazem das provisões que Deus fez para nós, de forma que possamos ser santificados e crescermos na graça e conhecimento do Senhor.

As promessas de Deus são cumpridas com o “Eu farei”. O “verbo futuro” de Marcos 16:17 denota determinação. Quando usado com pronomes, outros além de “eu” ou “nós”, ele denota ordem e determinação na escrita ou fala formal. Nesse exemplo, a fala do Senhor Jesus está sob consideração. Cristo está falando primariamente a Seus discípulos. Os sinais foram prometidos aos discípulos para confirmar a mensagem: “E eles [os discípulos], tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles [os discípulos] o Senhor e confirmando a palavra com os sinais [atestando milagres] que se seguiram. Amém!” (Marcos 16:20). Os crentes hoje não podem reivindicar a promessa desses sinais extraordinários. Nós temos a mensagem completa a qual ninguém pode adicionar e da qual ninguém pode tirar.

Falar em idiomas estrangeiros que não foram aprendidos era um sinal para confirmar a palavra nos tempos apostólicos. Idiomas devem ser avaliados pelo padrão objetivo da palavra de Deus em sua forma completa (Judas 3). É lógico assumir que Deus instituiria um milagre que os homens não pudessem duplicar através da simulação humana. Somente um milagre registrado envolveu idioma e fala antes de Pentecoste. Por causa do pecado do homem, Deus deu aos homens confusão de idiomas na torre de Babel (Gênesis 11). Ele mudou a fala simples e o idioma único do mundo em muitos idiomas (Gênesis 11). Essa foi uma mudança para idiomas estrangeiros, não expressões extáticas. Deus repetiu a natureza básica desse milagre em Pentecoste. Cristo esboçou o futuro relacionamento do Espírito Santo com o crente sem qualquer referencia à idiomas em João 14-16.

A glossolalia bíblica tem sua fonte no Deus soberano. A palavra glossolalia é composta de duas palavras gregas — glossa, o órgão físico, palavra, ou idioma, e laleo, falar. As cinqüenta ocorrências de glossa no Novo Testamento são divididas em seis categorias: (1) Quinze referem-se ao órgão do corpo usado para falar. (2) Uma fala da língua do homem rico no Hades (Lucas 16:24). (3) É usada uma vez, figurativamente, de línguas como de fogo (Atos 2:3). (4) Uma contrasta palavra com ação (1 João 3:18). (5) Sete vezes em Apocalipse ela está relacionada com famílias, povos, nações e multidões para descrever grupos étnicos caracterizados por falar certos idiomas estrangeiros. (6) Vinte e cinco vezes ela descreve o fenômeno real do dom de falar num idioma estrangeiro. A interpretação de passagens obscuras sempre deve ser determinada por conotações em passagens claras.

A maioria das opiniões dominantes da interpretação de glossolalia é que (1) ela consiste de idiomas estrangeiros por cristãos e (2) ela é extática, sujeita a um estado de êxtase, emoção sobrepujante, ou palavras corretamente rotuladas pela palavra adicional “estranhas”. Aqueles que pensam que a palavra em itálico “estranhas” em 1 Coríntios 14 na versão Almeida Revista e Corrigida está assim por causa de ênfase, falham em perceber que ela é uma palavra adicional. Como conseqüência, muitos crêem que a palavra “estranhas” é inspirada. A noção de que “línguas” (idiomas) eram um tipo de tagarelice excitante é racionalista. Quão ridículo é pensar que Paulo agradeceu a Deus que ele falava mais tipos de tagarelices do que todos os outros (1 Coríntios 14:8). Como alguém pode interpretar uma tagarelice ininteligível?

A história mostra que a ocorrência da glossolalia carismática tem sido encontrada em religiões não-cristãs. A glossolalia não-cristã tem sua origem em Satanás. A fala extática é encontrada entre os Maometanos. O sétimo artigo de fé dos Mórmons declara que eles crêem no dom de línguas, profecia, revelação, visões, cura, interpretação de línguas, etc. Faladores e não faladores de língua admitem da mesma forma que idiomas estrangeiros são geralmente identificados com o fenômeno em Atos, e a fala extática é salientada em 1 Coríntios 14. Contudo, como mencionado anteriormente, glossa não pode se referir tanto a idiomas estrangeiros e alguns estranhos ou à expressões extáticas.

O asno de Balaão falou numa língua (Números 22:28-30), mas ela foi um idioma que pôde ser tanto entendido como interpretado. A obrigação de provar está no falador moderno de língua, para mostrar que a glossolalia bíblica também inclui expressões extáticas estranhas. Os advogados do falar em línguas concordam que glossolalia ocorreu primeiramente no dia de Pentecoste. Idiomas foram distribuídos como fogo. Eles foram falados com um órgão de fala. Idiomas eram um dom sobrenatural de falar num idioma não estudado e não aprendido.

Nosso Senhor disse aos Seus discípulos que eles seriam capazes de falar em “novas línguas” (Marcos 16:17). Cristo usou a palavra kainos ao invés do sinônimo neos para “novo”. Se falar em línguas tivesse envolvido idiomas desconhecidos nunca falados antes, Cristo teria usado neos , que significa novo com respeito ao tempo ou o que é recente. O “novas línguas” são as “outras línguas” de Atos 2:4 — “E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas [idiomas], conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem”. Esses idiomas eram novos e diferentes para aqueles que os falariam. Eles não eram novos no sentido de que eles nunca tinham sido ouvidos ou no sentido de que eram novos para aqueles que os ouviriam.

Os discípulos falaram em “outras línguas”, não em “novas línguas”. Há duas palavras gregas diferentes para “outros”. Allos expressa uma diferença numérica e denota outro do mesmo tipo. Heteros expressa uma diferença qualitativa e denota outro de um tipo diferente. Por exemplo, Cristo prometeu enviar outro ( allos ), um do mesmo tipo, Consolador (João 14:16). Paulo disse que ele via outra ( heteros ) lei, uma lei diferente da lei do Espírito de vida (Romanos 7:23). Ele também falou de um evangelho diferente ( heteros ) daquele que ele pregava, que não é outro ( allos ) (Gálatas 1:6,7).


Extraído de: http://www.monergismo.com/

JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ SOMENTE & PENTECOSTALISMO

por John W. Robbins

A verdade da justificação pela fé somente julga e condena o movimento pentecostal-carismático. Ninguém pode crer na justificação pela fé somente e ao mesmo tempo consistentemente subscrever aos princípios básicos do Pentecostalismo.

Nós não negamos que possa haver cristãos verdadeiros que subscrevam à tese Pentecostal. As mentes de algumas pessoas são admiravelmente confusas. Porém, há quatro pontos que devem ser levantados sobre o Pentecostalismo à luz da justificação:

1. Quando Deus justifica o pecador por causa de Cristo somente, Ele faz isto atribuindo ao crente tudo o que Cristo fez em Sua santa obediência em nosso favor. Tudo que Cristo é, toda a Sua justiça inconquistável com todos os seus méritos e heranças, pertence ao pecador necessitado que o Espírito Santo une a Cristo em fé salvadora. Este é o dom que compreende e abrange tudo mais.

Agora, se os nossos amigos pentecostais confessam conosco a magnitude deste dom de justificação, por que eles falam sobre a experiência de ser batizado no Espírito, como se isso fosse algo mais alto e melhor do que o que todo crente em Jesus já possui?

O dom presente do Espírito Santo é somente o “penhor” (Efésios 1:13,14) do que herdamos através de Jesus Cristo. A graça da justificação é como a água no oceano inteiro. A experiência interior é como uma concha pequena segurando um pouco desta água. Um dom que pode ser reduzido à dimensão da experiência de um pecador mortal não é um grande dom de forma alguma.

2. Quando o Pentecostalismo ensina uma experiência religiosa após a justificação e conversão, isso implica que o dom gratuito da justiça de Cristo ao crente não é suficiente para trazer o enchimento, ou batismo, do Espírito Santo.

Mas justificação significa que, visto que a justiça de Cristo é imputada ao crente, Deus deve não somente considerá-lo, mas tratá-lo como justo. Eu não sou um homem justo justificado com Deus? Deus não se deleita e não ama abraçar um homem justo? O apóstolo Paulo diz que o Espírito vem com a bênção da justificação (Romanos 4:1-4; 8:1-10; Gálatas 3:1-14; Efésios 1:24; etc). Uma justificação diante de Deus que não traz o Espírito Santo abundantemente (Tito 3:5-8) não é uma justificação de forma alguma, e não mereceria que se falasse sobre ela — o qual é geralmente o caso entre os entusiastas carismáticos.

3. Se a recepção da justiça imputada pela fé somente não traz com ela o abundante dom do Espírito, outros passos ou técnicas devem ser utilizados para se obter “o melhor do céu”. Aqui a porta está aberta para um novo tipo de legalismo. As pessoas tornam-se obcecadas por receber o Espírito por seus próprios atos de “entrega absoluta”, “dedicação total”, “erradicação de si mesmo” ou “colocar Jesus sobre o trono de sua vida”. A atenção é tirada da mensagem do Evangelho de que Cristo realmente obteve o Espírito para o crente por Seus próprios atos de entrega absoluta, dedicação total, e pela aniquilação do pecado que aconteceu no Calvário (Atos 2:33; Gálatas 3:13,14; João 7:38,39).

Paulo lembra aos gálatas insensatos que o Espírito veio (Gálatas 3:2) e continua a ser dado abundantemente (Gálatas 3:5, tradução literal) pelou ouvir da fé. A pregação do evangelho é a proclamação de como o Espírito vem ao homem pelos atos conquistadores de Jesus em favor do homem. O “galatianismo” proclama como os homens podem ganhar o Espírito.

4. A preocupação esmagadora do Pentecostalismo é a vida interna do crente. Seu testemunho predominante é à experiência interna do Espírito, antes do que à ação histórica de Deus em Jesus Cristo. Por esta razão, a espiritualidade Pentecostal está em harmonia fundamental com a espiritualidade Católica Romana. O Pentecostalismo tem sido capaz de construir uma ponte entre o abismo que existe entre o Romanismo e o Protestatismo apóstata, mas o trânsito ao longo desta ponte é principalmente num sentido. Toda experiência religiosa que é uma negação da justificação pela fé somente encontra sua morada em Roma.


Extraído de: http://www.monergismo.com/

A CRUZ DE CRISTO

por J.C. Ryle

O que você pensa acerca da cruz de Cristo? Talvez você considere esta questão como algo de somenos importância; não obstante, dela depende intensamente o bem-estar eterno de sua alma.

Há mil e oitocentos anos atrás, houve um homem que disse gloriar-se na cruz de Cristo. Foi alguém que revirou o mundo de cabeça para baixo pelas doutrinas que pregava. De todos os homens que já viveram neste mundo, foi ele quem mais contribuiu para o estabelecimento do Cristianismo. E mesmo assim, foi este homem quem disse aos Gálatas:

“Longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”, Epístola de Paulo Aos Gálatas 6.14

Leitor, a “cruz de Cristo” deve ser um assunto verdadeiramente importante para que um apóstolo inspirado fale de tal forma sobre ela. Deixe-me tentar demonstrá-lo o verdadeiro significado desta expressão. Uma vez reconhecendo o que significa a cruz de Cristo, com a ajuda de Deus você se tornará capaz de perceber a importância dela para a sua alma.

A palavra cruz, na Bíblia, algumas vezes faz referência à cruz de madeira na qual o Senhor Jesus foi cravado e posto para morrer, no Calvário. Isto é precisamente o que São Paulo tinha em sua mente quando falou aos Filipenses que Cristo “foi obediente até a morte, e morte de cruz” (Fp 2.8). Contudo, esta não era a cruz na qual São Paulo se gloriava. Ele esquivar-se-ia com horror da idéia de gloriar-se em um mero pedaço de madeira. Eu não tenho quaisquer dúvidas de que ele denunciaria a adoração católica romana do crucifixo como profana, blasfema e idolátrica.

A cruz, em outras vezes, é atinente às aflições e provações que os crentes atravessam pela causa da religião que professam, quando seguem a Cristo fielmente. Este é o sentido no qual nosso Senhor usa a palavra, quando diz: “Aquele que não toma a sua cruz, e segue-me, não é digno de mim” (Mt 10.38). Este também é o sentido no qual Paulo usa a palavra quando escreve aos Gálatas. Ele conhecia bem esta cruz. Deveras, ele a carregava pacientemente; no entanto, também não é sobre isto que ele está falando aqui.

Mas a palavra cruz também se refere, em alguns outros lugares da Escritura, à doutrina de que Cristo morreu pelos pecadores sobre a cruz, - a expiação que Ele fez pelos pecadores, por Seus sofrimentos em favor deles sobre a cruz – o completo e perfeito sacrifício pelo pecado que Jesus ofereceu quando deu Seu próprio corpo para ser crucificado. Em suma, este termo, “a cruz”, aponta para Cristo crucificado, o único Salvador. Este é o significado no qual Paulo usa a expressão, quando fala aos coríntios: “A pregação da cruz é loucura para os que perecem” (1 Co 1.18). E este também é o significado do que ele escreveu aos Gálatas: “Longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”. Ele está dizendo simplesmente isto: “Eu não me glorio em nada mais, exceto em Cristo crucificado, como a salvação de minha alma”.

Leitor, Jesus Cristo crucificado era a alegria e o deleite, o conforto e a paz, a esperança e a confiança, a fundação e o lugar de descanso, a arca e o refúgio, o alimento e o remédio da alma de Paulo. Ele não considerava que teria de executar algo por si mesmo ou padecer por si mesmo. Ele não era mediado por sua própria bondade e nem por sua própria retidão. Ele amava pensar naquilo que Cristo havia feito, e naquilo que Cristo havia sofrido - a morte de Cristo, a justiça de Cristo, a expiação de Cristo, o sangue de Cristo, a obra finalizada de Cristo. Nisto, sim, ele se gloriava. Este era o sol de sua alma.

Este era o assunto que sobre o qual ele amava pregar. O apóstolo Paulo foi um homem que percorreu a terra proclamando aos pecadores que o Filho de Deus havia derramado o sangue de Seu próprio coração para salvar-lhes. Ele caminhou por todos os lugares neste mundo falando às pessoas que Jesus Cristo as amava, a ponto de morrer pelos seus pecados sobre a cruz. Observe como ele diz aos coríntios: “Eu vos entreguei o que primeiro recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados” (1 Co 15.3); “eu me determinei a não saber de qualquer coisa entre vós, a não ser Jesus Cristo, e este crucificado” (1 Co 2.2). Ele – um blasfemo, fariseu perseguidor – havia sido lavado no sangue de Cristo; de tal modo a não poder deixar de sustentar sua paz sobre este sangue. Por isso ele nunca se cansava de falar da história da cruz.

Este foi o tema sobre o qual ele amava alongar-se quando escrevia aos crentes. É maravilhoso observar como suas epístolas geralmente são repletas dos sofrimentos e da morte de Cristo - como elas discorrem sobre "pensamentos que inspiram e palavras que ardem" sobre o amor e o poder das agonias de Cristo. Seu coração parece cheio deste assunto: ele discorre sobre isto constantemente e retoma o tema continuamente. É o fio de ouro que perpassa todo seu ensino doutrinário, e todas as exortações práticas. Ele parece pensar que mesmo para o cristão mais maduro nunca é demais ouvir sobre a cruz.

Foi sobre isto que ele viveu toda sua vida, desde o tempo de sua conversão. Ele diz aos gálatas: “A vida que agora eu vivo na carne, vivo-a pela fé no Filho de Deus, o qual me amou, e a si mesmo se deu por mim” (Gl 2.20). O que o faz tão forte para o labor? O que o faz tão disposto para a obra? O que o faz tão incansável em esforçar-se para salvar alguns? O que o faz tão perseverante e paciente? Eu vou dizê-lo, qual o segredo disto tudo. Ele sempre se alimentava pela fé do corpo de Cristo e do sangue de Cristo. Jesus Cristo foi a comida e a bebida de sua alma.

È leitor, você pode estar convicto de que Paulo estava correto. Confiar nela, isto é, na cruz de Cristo, - a morte de Cristo sobre a cruz para fazer a expiação pelos pecadores – é a verdade central ao longo de toda a Bíblia. Esta é a verdade que encontramos logo ao abrirmos no livro do Gênesis. A semente da mulher que esmagaria a cabeça da serpente - isto não é outra coisa senão uma profecia de Cristo crucificado. Deveras, esta é a verdade que brilha, por trás do véu, em toda a lei de Moisés e na história dos judeus. Os sacrifícios diários, o cordeiro pascal, o contínuo derramamento de sangue no tabernáculo e no templo - tudo isto são sombras do Cristo crucificado. E esta é a verdade que também vemos ser honrada na visão do céu, antes do fechamento do livro das Revelações: “Então, vi, no meio do trono e dos quatro seres viventes e entre os anciãos, de pé, um Cordeiro como tendo sido morto”(Ap 5.6). De fato, mesmo em meio à glória celestial nós encontramos uma visão de Cristo crucificado. Tire a cruz de Cristo, e a Bíblia será um livro obscuro. Ela seria como os hieróglifos egípcios, sem a chave que interpreta o seu significado – curiosa e maravilhosa, mas sem qualquer serventia real.

Leitor, observe bem o que eu lhe digo. Você pode conhecer uma boa porção da Bíblia. Pode conhecer os contornos das histórias nela contidas, e até a data dos eventos que a Bíblia descreve, assim como alguém pode conhecer a história da Inglaterra. Você pode conhecer os nomes dos homens e mulheres nela mencionados, assim como um homem conhece César, Alexandre o Grande, ou Napoleão. Você pode conhecer vários preceitos da Bíblia, e os admirar, assim como um homem admira Platão, Aristóteles, ou Sêneca. Mas se você ainda não descobriu que Cristo crucificado é o fundamento de cada livro, você tem lido a Bíblia até agora de modo muito pouco proveitoso. Sua religião é um céu sem um sol, um arco sem um fecho, um compasso sem uma agulha, um relógio sem molas ou valores, um candeeiro sem óleo. Ela não o confortará. Ela não livrará a sua alma do inferno.

Leitor, observe mais uma vez o que eu lhe digo. Você pode conhecer bastante acerca de Cristo, tendo alguma espécie de conhecimento intelectual. Você pode conhecer bem quem Ele foi, e onde Ele nasceu, e o que Ele fez. Você pode conhecer Seus milagres, Suas falas, Suas profecias, e Suas ordenanças. Você pode saber como Ele viveu, como Ele sofreu, e como Ele morreu. Contudo, pode-se conhecer o poder da cruz de Cristo experimentando-o; deveras - a menos que você saiba e reconheça que aquele sangue derramado sobre a cruz lavou seus próprios pecados particulares, e a menos que você esteja disposto a confessar que sua salvação depende inteiramente da obra que Cristo realizou sobre a cruz -, se não for esse o seu caso, Cristo não lhe será em nada proveitoso. Sim, o mero conhecimento do nome de Cristo jamais o salvará. Você deve conhecer a Sua cruz e o Seu sangue, ou então acabará morrendo em seus próprios pecados.

Leitor, enquanto você viver, tome cuidado com uma religião na qual não se ouve muito da cruz. Você vive em tempos nos quais a cautela, lamentavelmente, é necessária. Cuidado, eu repito, com uma religião sem a cruz.

Há centenas de lugares de adoração nestes dias, nos quais se encontram quase todas as coisas, exceto a cruz. Há carvalhos gravados, e pedras esculpidas; há vidros coloridos, e pinturas esplêndidas; há serviços solenes, e uma constante série de ordenanças; mas a cruz real de Cristo não há. Jesus crucificado não é proclamado no púlpito. O Cordeiro de Deus não é exaltado, e a salvação mediante a fé n’Ele não é livremente proclamada. E, por conseguinte, todos estes lugares estão em erro. Leitor, acautele-se de tais lugares de adoração. Eles não são apostólicos. Eles não haveriam de satisfazer a São Paulo.

Há milhares de livros religiosos publicados hodiernamente, nos quais se acham quase todas as coisas, exceto a cruz. Eles são plenos de direcionamentos sobre os sacramentos, e louvores da Igreja; eles abundam em exortações para uma vida santa, e em regras para a consecução da perfeição; eles apresentam fartura de fontes e cruzes, tanto interna quanto externamente; mas a cruz real de Cristo é deixada de fora. O Salvador e Seu amor agonizante tampouco são mencionados, ou o são de um modo anti-escriturístico. E, por conseguinte, todos estes livros são piores do que imprestáveis. Eles são não apostólicos. Eles jamais satisfariam a São Paulo.

Leitor, São Paulo não se gloriava em nada mais, a não ser na cruz. Esforce-se para também ser assim. Coloque Jesus crucificado sempre diante dos olhos de sua alma. Não ouça qualquer ensino que interponha algo entre você e Ele. Não caia no antigo erro dos gálatas. Não pense que alguém nestes dias seja melhor guia do que os apóstolos. Não se envergonhe das antigas veredas, nas quais percorreram homens que foram inspirados pelo Espírito Santo. Não deixe que a conversa vazia de homens que proferem grandes palavras dilatadas sobre a catolicidade, e a igreja, e o ministério, perturbem a sua paz, e o façam despreender-se da cruz. As igrejas, os ministros e os sacramentos são todos importantes a seu próprio modo, mas eles não são Cristo crucificado. Não dê a glória de Cristo a nenhum outro. “Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor”.

Leitor, pus tais pensamentos diante de sua mente. O que você pensa agora sobre a cruz de Cristo? Eu não posso dizer; mas não posso desejar a você algo melhor do que isto – que você possa ser capaz de dizer com o apóstolo Paulo, antes de você morrer ou apresentar-se ao Senhor, “Longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”. Amém.


Fonte: Site "Em Espírito" - http://www.emespirito.hpg.ig.com.br/

A CRUZ E O EGO

por Arthur W. Pink

“Então, disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz, e siga-me” — (Mateus 16:24).

Antes de desenvolver o tema deste verso, comentemos os seus termos. “Se alguém”: o dever imposto é para todos os que desejam se unir aos seguidores de Cristo e alistar sob a Sua bandeira. “Se alguém quer”: o grego é muito enfático, significando não somente o consentimento da vontade, mas o pleno propósito de coração, uma resolução determinada. “Vir após mim”: como um servo sujeito ao seu Mestre, um estudante ao seu Professor, um soldado ao seu Capitão. “Negue”: o grego significa “negar totalmente”. Negar a si mesmo: sua natureza pecaminosa e corrompida. “E tome”: não passivamente sofra ou suporte, mas assuma voluntariamente, adote ativamente. “Sua cruz”: que é desprezada pelo mundo, odiada pela carne, mas que é a marca distintiva de um cristão verdadeiro. “E siga-me”: viva como Cristo viveu — para a glória de Deus.

O contexto imediato é mais solene e impressionante. O Senhor Jesus tinha acabado de anunciar aos Seus apóstolos, pela primeira vez, a aproximação de Sua morte de humilhação (v. 21). Pedro se assustou, e disse, “Tem compaixão de Ti, Senhor” (v. 22). Isto expressou a política da mente carnal. O caminho do mundo é a procura para si mesmo e a defesa de si mesmo. “Tenha compaixão de ti” é a soma de sua filosofia. Mas a doutrina de Cristo não é “salva a ti mesmo”, mas sacrifica a ti mesmo. Cristo discerniu no conselho de Pedro uma tentação de Satanás (v. 23), e imediatamente a rejeitou. Então, voltando-se para Pedro, disse: Não somente “deve” o Cristo subir à Jerusalém e morrer, mas todo aquele que desejar ser um seguidor dEle, deve tomar sua cruz (v. 24). O “deve” é tão imperativo num caso como no outro. Mediatoriamente, a cruz de Cristo permanece sozinha; mas experiencialmente, ela é compartilhada por todos que entram na vida.

O que é um “cristão”? Alguém que sustenta membresia em alguma igreja terrena? Não. Alguém que crê num credo ortodoxo? Não. Alguém que adota um certo modo de conduta? Não. O que, então, é um cristão? Ele é alguém que renunciou a si mesmo e recebeu a Cristo Jesus como Senhor (Colossenses 2:6). Ele é alguém que toma o jugo de Cristo sobre si e aprende dEle que é “manso e humilde de coração”. Ele é alguém que foi “chamado à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1 Coríntios 1:9): comunhão em Sua obediência e sofrimento agora, em Sua recompensa e glória no futuro sem fim. Não há tal coisa como pertencer a Cristo e viver para agradar a si mesmo. Não cometa engano neste ponto, “E qualquer que não tomar a sua cruz e não vier após mim não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:27), disse Cristo. E novamente Ele declarou, “Mas aquele (ao invés de negar a si mesmo) que me negar diante dos homens (não “para” os homens: é conduta, o caminhar, que está aqui em vista), também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus” (Mateus 10:33).

A vida cristã começa com um ato de auto-renúncia, e é continuada pela auto-mortificação (Romanos 8:13). A primeira pergunta de Saulo de Tarso, quando Cristo o apreendeu, foi, “Senhor, que queres que eu faça?”. A vida cristã é comparada com uma “corrida”, e o corredor é chamado para “deixar todo embaraço e o pecado que tão de perto nos assedia” (Hebreus 12:1), cujo “pecado” é o amor por si mesmo, o desejo e a determinação de ter o nosso “próprio caminho” (Isaías 53:6). O grande alvo, fim e tarefa posta diante do Cristão é seguir a Cristo — seguir o exemplo que Ele nos deixou (1 Pedro 2:21), e Ele “não agradou a si mesmo” (Romanos 15:3). E há dificuldades no caminho, obstáculos na estrada, dos quais o principal é o ego. Portanto, este deve ser “negado”. Este é o primeiro passo para se “seguir” a Cristo.

O que significa para um homem “negar a si mesmo” totalmente? Primeiro, isto significa a completa repudiação de sua própria bondade. Significa cessar de descansar sobre quaisquer obras nossas, para nos recomendar a Deus. Significa uma aceitação sem reservas do veredicto de Deus que “todas as nossas justiças [nossas melhores performances], são como trapo da imundícia” (Isaías 64:6). Foi neste ponto que Israel falhou: “Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus” (Romanos 10:3). Agora, contraste com a declaração de Paulo: “E seja achado nEle, não tendo justiça própria” (Filipenses 3:9).

Para um homem “negar a si mesmo” totalmente, deverá renunciar completamente sua própria sabedoria. Ninguém pode entrar no reino dos céus, a menos que tenha se tornado “como criança” (Mateus 18:3). “Ai dos que são sábios a seus próprios olhos e prudentes em seu próprio conceito!” (Isaías 5:21). “Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos” (Romanos 1:22). Quando o Espírito Santo aplica o Evangelho em poder numa alma, é para “destruir os conselhos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo” (2 Coríntios 10:5). Um moto sábio para o todo cristão adotar é “não te estribes no teu próprio entendimento” (Provérbios 3:5).

Para um homem “negar a si mesmo” totalmente, deverá renunciar completamente sua própria força. É “não confiar na carne” (Filipenses 3:3). É o coração se curvando à declaração positiva de Cristo: “Sem mim, nada podeis fazer” (João 15:5). Este é o ponto no qual Pedro falhou: (Mateus 26:33). “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda” (Provérbios 16:18). Quão necessário é, então, que prestemos atenção à 1 Coríntios 10:12: “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia”! O segredo da força espiritual reside em reconhecer nossa fraqueza pessoal: (veja Isaías 40:29; 2 Crônicas 12:9). Então, “fortifiquemo-nos na graça que há em Cristo Jesus” (2 Timóteo 2:1).

Para um homem “negar a si mesmo” totalmente, deverá renunciar completamente sua própria vontade. A linguagem do não-salvo é, “Não queremos que este Homem reine sobre nós” (Lucas 19:14). A atitude do cristão é, “Para mim, o viver é Cristo” (Filipenses 1:21) — honrá-Lo, agradá-Lo, servi-Lo. Renunciar sua própria vontade significa atender à exortação de Filipenses 2:5, “Que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus”, o qual é definido nos versos que imediatamente seguem como de abnegação. É o reconhecimento prático de que “não sois de vós mesmos, porque fostes comprados por bom preço” (1 Coríntios 6:19,20). É dizer com Cristo, “Não seja, porém, o que eu quero, mas o que tu queres” (Marcos 14:36).

Para um homem “negar a si mesmo” totalmente, deverá renunciar completamente suas luxúrias ou desejos carnais. “O ego do homem é um feixe de ídolos” (Thomas Manton, Puritano), e estes ídolos devem ser repudiados. Os não-cristãos são “amantes de si mesmos” (2 Timóteo 3:1); mas aquele que foi regenerado pelo Espírito diz com Jó, “Eis que sou vil” (40:4), “Eu me abomino” (42:6). Dos não-cristãos está escrito, “todos buscam o que é seu e não o que é de Cristo Jesus” (Filipenses 2:21); mas dos santos de Deus está registrado,“eles não amaram a sua vida até à morte” (Apocalipse 12:11). A graça de Deus está “ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, justa e piamente” (Tito 2:12).

Esta negação do ego que Cristo requer de todos os Seus seguidores deve ser universal. Não há nenhuma reserva, nenhuma exceção feita: “Nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências” (Romanos 13:14). Deve ser constante, não ocasional: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me” (Lucas 9:23). Deve ser espontânea, não forçada, realizada com satisfação, não relutantemente: “Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens” (Colossenses 3:23). Ó, quão impiamente o padrão que Deus colocou diante de nós tem sido rebaixado! Como isso condena a vida acomodada, agradável à carne e mundana de tantos que professam (mas, de maneira vã) que eles são “cristãos”!

“E tome a sua cruz”. Isto se refere não à cruz como um objeto de fé, mas como uma experiência na alma. Os benefícios legais do Calvário são recebidos através do crer, quando a culpa do pecado é cancelada, mas as virtudes experimentais da Cruz de Cristo são somente desfrutadas à medida que somos, de um modo prático, “conformados com a Sua morte” (Filipeneses 3:10). É somente à medida que realmente aplicamos a cruz às nossas vidas diárias, regulamos nossa conduta pelos seus princípios, que ela se torna eficaz sobre o poder do pecado que habita em nós. Não pode haver ressurreição onde não há morte, e não pode haver andar prático “em novidade de vida” até que “carreguemos no corpo o morrer do Senhor Jesus” (2 Coríntios 4:10). A “cruz” é o sinal, a evidência, do discipulado cristão. É sua “cruz”, e não o seu credo, que distingue um verdadeiro seguidor de Cristo do mundano religioso.

Agora, no Novo Testamento a “cruz” tem o significado de realidades definidas. Primeiro, ela expressa o ódio do mundo. O Filho de Deus veio aqui não para julgar, mas par salvar; não para punir, mas para redimir. Ele veio aqui “cheio de graça e verdade”. Ele sempre esteve à disposição dos outros: ministrando aos necessitados, alimentando os famintos, curando os enfermos, libertando os possessos pelo demônio, ressuscitando os mortos. Ele era cheio de compaixão: gentil como um cordeiro; inteiramente sem pecado. Ele trouxe com Ele felizes notícias de grande alegria. Ele procurou os perdidos, pregou aos pobres, todavia, não desdenhou dos ricos; Ele perdoou pecadores. E, como Ele foi recebido? Que tipo de recepção os homens Lhe deram? Eles O “desprezaram e rejeitaram” (Isaías 53:3). Ele declarou, “Eles Me odeiam sem uma causa” (João 15:25). Eles tiveram sede de Seu sangue. Nenhuma morte ordinária os apaziguaria. Eles demandaram que Ele deveria ser crucificado. A Cruz, então, foi a manifestação do ódio inveterado do mundo pelo Cristo de Deus.

O mundo não mudou, não mais do que o etíope pode mudar sua pele ou o leopardo suas manchas. O mundo e Cristo ainda estão em aberto antagonismo. Por conseguinte, está escrito: “Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tiago 4:4). É impossível andar com Cristo e comungar com Ele, até que tenhamos nos separado do mundo. Andar com Cristo necessariamente envolve compartilhar Sua humilhação: “Saiamos, pois, a Ele, fora do arraial, levando o seu vitupério” (Hebreus 13:13). Isto foi o que Moisés fez (veja Hebreus 11:24-26). Quanto mais próximo eu andar de Cristo, mais eu serei mal-entendido (1 João 3:2), ridicularizado (Jó 12:4) e detestado pelo mundo (João 15:19). Não cometa engano aqui: é extremamente impossível continuar com o mundo e ter comunhão com o Santo Cristo. Portanto, “tomar” minha “cruz” significa, que eu deliberadamente convido a inimizade do mundo através da minha recusa em ser “conformado” a ele (Romanos 12:2). Mas, o que importa o olhar carrancudo do mundo, se estou desfrutando os sorrisos do Salvador?

Tomar minha “cruz” significa uma vida voluntariamente rendida a Deus. Como o ato dos homens ímpios, a morte de Cristo foi um assassinato; mas como o ato do próprio Cristo, foi um sacrifício voluntário, oferecendo a Si mesmo a Deus. Foi também um ato de obediência a Deus. Em João 10:18 Ele disse, “Ninguém a [Sua vida] tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou”. E por que Ele o fez? Suas próximas palavras nos dizem: “Este mandato recebi de meu Pai”. A cruz foi a suprema demonstração da obediência de Cristo. Nesta Ele foi o nosso Exemplo. Uma vez mais citamos Filipenses 2:5: “Que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus”. E nos versos seguintes nós vemos o Amado do Pai tomando a forma de um Servo, e tornando-Se “obediente até a morte, e morte de cruz”. Agora, a obediência de Cristo deve ser a obediência do cristão — voluntária, alegre, sem reservas, contínua. Se esta obediência envolve vergonha e sofrimento, acusação e perda, não devemos nos acovardar, mas por o nosso rosto “como um seixo” (Isaías 50:7). A cruz é mais do que o objeto da fé do cristão, ela é o sinal de discipulado, o princípio pelo qual sua vida deve ser regulada. A “cruz” significa rendição e dedicação a Deus: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Romanos 12:1).

A “cruz” significa serviço vicário e sofrimento. Cristo deu a Sua vida pelos outros, e Seus seguidores são chamados a estarem dispostos para fazerem o mesmo: “Devemos dar nossa vida pelos irmãos” (1 João 3:16). Esta é a lógica inevitável do Calvário. Somos chamados para seguir o exemplo de Cristo, para a companhia de Seus sofrimentos, e para ser participantes em Seu serviço. Assim como Cristo “a si mesmo se esvaziou” (Filipenses 2:7), assim devemos fazer. Assim como Ele “veio para servir, e não para ser servido” (Mateus 20:28), assim devemos ser. Assim como Ele “não agradou a si mesmo” (Romanos 15:3), assim devemos fazer. Assim como Ele lembrou dos outros, assim devemos lembrar: “Lembrai-vos dos encarcerados, como se presos com eles; dos que sofrem maus tratos, como se, com efeito, vós mesmos em pessoa fôsseis os maltratados” (Hebreus 13:3).

“Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á” (Mateus 16:25). Palavras quase idênticas a estas são encontradas novamente em Mateus 10:39. Marcos 8:35, Lucas 9:24; 17:33, João 12:25. Certamente, tal repetição mostra a profunda importância de notar e prestar atenção a este dito de Cristo. Ele morreu para que nós pudéssemos viver (João 12:24), e assim devemos fazer (João 12:25). Como Paulo, devemos ser capazes de dizer “Em nada tenho a minha vida por preciosa” (Atos 20:24). A “vida” que é vivida para a gratificação do ego neste mundo, está “perdida” para eternidade; a vida que é sacrificada para os interesses próprios e rendida a Cristo, será “achada” novamente, e preservada durante toda a eternidade.

Um jovem universitário graduado, com prospectos brilhantes, respondeu ao chamado de Cristo para uma vida de serviço a Ele na Índia, entre a casta mais baixa dos nativos. Seus amigos exclamaram: “Que tragédia! Uma vida lançada fora!” Sim, “perdida”, até onde diz respeito a este mundo, mas “achada” novamente no mundo porvir !


Fonte: http://www.monergismo.com/

A CENTRALIDADE DA CRUZ

por James Montgomery Boyce

Se a morte de Cristo na cruz é o verdadeiro significado de sua encarnação, não existe evangelho sem a cruz. O nascimento de Cristo, por si mesmo, não é a essência do evangelho. Mesmo a ressurreição, embora seja importante no plano geral da salvação, não é o cerne do evangelho. As boas-novas não consistem apenas no fato de que Deus se tornou homem, ou de que Ele falou com o propósito de revelar-nos o caminho da vida, ou de que a morte, o grande inimigo, foi vencida. As boas-novas estão no fato de que Deus lidou com nosso pecado (do que a ressurreição é uma prova); que Jesus sofreu o castigo como nosso Representante, de modo que nunca mais tenhamos de sofrê-lo; e que, por isso mesmo, todos os que crêem podem antegozar o céu. Gloriar-se na Pessoa e nos ensinos de Cristo somente é possível para aqueles que entram em um novo relacionamento com Deus, por meio da fé em Jesus como seu Substituto.

A ressurreição não é apenas uma vitória sobre a morte, mas também uma prova de que a expiação foi satisfatória aos olhos do Pai (Rm 4.25) e de que a morte, o resultado do pecado, foi abolida por causa desta satisfação. Qualquer evangelho que proclama somente a vinda de Cristo ao mundo, significando a encarnação sem a expiação, é um falso evangelho. Qualquer evangelho que proclama o amor de Deus sem ressaltar que seu amor O levou a pagar, na pessoa de seu Filho, na cruz, o preço final pelos nossos pecados, é um falso evangelho.

O verdadeiro evangelho é aquele que fala sobre o “único Mediador” (1 Tm 2.5-6), que ofereceu a Si mesmo por nós. E, assim como não pode haver um evangelho que não apresenta a expiação como o motivo para a encarnação, assim também sem a expiação não pode haver vida cristã. Sem a expiação, o conceito de encarnação facilmente se degenera num tipo de deificação do homem, levando-o a arrogância e auto-exaltação. E além disso, com a expiação (ou sacrifício) como a verdadeira mensagem da vida de Cristo e, por conseguinte, também da vida do cristão, quer homem ou mulher, esta deverá conduzi-lo à humildade e ao auto-sacrifício em favor das reais necessidades de outros.

A vida cristã não demonstra indiferença àqueles que estão famintos e doentes ou têm qualquer outra dificuldade. A vida cristã não consiste em contentar-nos com as coisas que temos, ou com um viver da classe média, desfrutando de uma grande casa, carros novos, roupas finas e boas férias, ou com uma boa formação educacional, ou com a riqueza espiritual de boas igrejas, Bíblias, ensino correto das Escrituras, amigos ou uma comunidade cristã. Pelo contrário, a vida cristã envolve a conscientização de que outros carecem de tais coisas; portanto, precisamos sacrificar nossos próprios interesses, para nos identificarmos com eles, comunicando-lhes cada vez mais a abundância que desfrutamos...Viveremos inteiramente para Cristo somente quando estivermos dispostos a empobrecer, se necessário, para que outros sejam ajudados.


Fonte: Fé para Hoje, Versão Online, Número 8, Ano 2000.

A GLÓRIA DE DEUS E O PROFUNDO DELEITE DA ALMA HUMANA SÃO, EM SI, A MESMA COISA

por John Piper

Jonathan Edwards escreveu:

Deus, ao buscar Sua glória, busca também o bem de suas criaturas porque a emanação de Sua glória… pressupõe a felicidade de Suas criaturas. E, em comunicar-lhes Sua inteireza Ele o faz para si mesmo, porque o bem de suas criaturas, o qual Ele busca, está na sua estreita união e comunhão com Deus. Deus é o bem de suas criaturas. A excelência e a felicidade de suas criaturas não são nada mais que a emanação e a expressão da glória de Deus. Deus, ao buscar a glória e a felicidade de suas criaturas, busca a Si mesmo, e, ao buscar a si mesmo, isto é, a si mesmo irradia-se … Ele busca a glória e a felicidade de suas
criaturas. Assim, pois, é fácil conceber-se como Deus pode buscar o bem da criatura… a sua felicidade, a começar por uma suprema consideração por Si mesmo, pois a felicidade da criatura procede de… exercitar uma suprema apreciação por Deus… em contemplar a glória de Deus, em estimá-la, em amá-la e em regozijar-se nela. O respeito de Deus pelo bem da criatura e o seu respeito para consigo mesmo não é um respeito dividido; mas ambos formam uma unidade, pois a felicidade da criatura, que Deus visa, é a felicidade de sua união com Deus.

Em seu livro God’s Passion for His Glory: Living the Vision of Jonathan Edwards(com o texto completo de The End for Which God Created the World) (Wheaton, Ill.: Crossway Books, 1998), John Piper oferece quinze implicações das verdades citadas acima. 1. A paixão de Deus por sua própria glória e sua paixão por minha alegria, não se contradizem.
2. Deus está comprometido com minha crescente alegria em si mesmo, assim como está comprometido com sua própria glória.
3. O amor de Deus pelos pecadores, não é o de ter pensamentos elevados dos mesmos, mas de, graciosamente, os libertar e fortalecer para que se alegrem e o exaltem.
4. Toda verdadeira virtude entre os seres humanos deve trazer os indivíduos a se regozijarem na glória de Deus.
5. Segue-se, ainda, que o pecado é a troca suicida da glória de Deus pelas cisternas rotas das coisas criadas.
6. O céu será um perpétuo e crescente descobrimento da glória de Deus, com um regozijo cada vez maior em Deus.
7. O Inferno é terrivelmente real, consciente, horrível e eterno – a experiência em que Deus justifica o valor de sua glória, em ira santa derramada sobre aqueles que não se deleitaram naquilo que é infinitamente glorioso.
8. Evangelização é a demonstração da beleza de Cristo e de sua obra salvífica, com um profundo sentimento de amor que trabalha a fim de ajudar as pessoas a encontrarem sua plena satisfação em Deus.
9. De igual maneira, a pregação cristã, como parte do culto corporativo da Igreja, é uma exultação expositiva sobre as glórias de Deus em seu mundo, com o propósito de atrair o povo de Deus dos prazeres fugazes do pecado, para o caminho sacrifical de obediência a Deus.
10. A essência da autêntica adoração corporativa é a experiência coletiva de sincera satisfação na glória de Deus, ou o temor por reconhecer que não possuímos, mas que profundamente almejamos a dita satisfação.
11. Missões mundiais é a declaração das glórias de Deus entre os povos ainda não alcançados, com vistas à reunião de adoradores que exaltem a Deus através da alegria manifesta, de vidas radicalmente obedientes.
12. Oração é clamar a Deus por ajuda, de maneira a demonstrar claramente que ele tem gloriosamente todos os recursos, e que nós somos, humilde e alegremente, necessitados de sua graça.
13. A tarefa a que o crente é incumbido em seu conhecimento acadêmico é a de estudar toda a realidade como manifestações da glória de Deus, falar sobre elas com exatidão, e, nestas coisas, saborear a beleza de Deus.
14. A maneira de glorificar Deus na morte é encará-la como ganho.
15. “É um dever cristão, como você sabe, que cada pessoa seja feliz o quanto puder.” (C. S. Lewis)

Tradução: Roberto Freire

Fonte: http://blog.editorafiel.com.br/

sexta-feira, 25 de junho de 2010

A DOUTRINA DA GRAÇA NA VIDA PRÁTICA: ORIENTAÇÃO

por Terry Johnson

Por favor, leia o Salmo 23

Com quem vou me casar? Onde vou viver? Onde vou trabalhar? Estas são as três grandes questões da vida. Há dezenas de outras menos importantes que também pesam muito sobre nós. Onde vou estudar? Devo comprar este carro? Faço essa viagem? Algumas vezes pode ser muito difícil responder a essas questões. Minha decisão de ser o pastor dos jovens na Igreja Presbiteriana de Granada em vez de professor de Bíblia em uma escola cristã, em Macon, em junho de 1982, tomou várias semanas de debate interno e oração confusa. Dia após dia, eu gritava por dentro: “O que eu faço?” Muitos de vocês já estiveram nessa situação. Outros sempre estão assim. Não sabemos exatamente o que fazer.

A questão que devemos tratar aqui é se Deus vai nos ajudar ou não em nossas decisões. Para isso, mais do que em qualquer outro assunto, devemos adotar um entendimento evangélico de Deus e do nosso relacionamento com ele. Devemos reconhecer que Deus é um ser pessoal que ama seu povo em Jesus Cristo e que promete guiar seu povo como um Pai e como um Pastor. Devemos admitir ser verdade que:

Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso; refrigera-me a alma. Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome (Sl 23.2,3).

E novamente o salmista Davi diz:

Bom e reto é o Senhor, por isso, aponta o caminho aos pecadores. Guia os humildes na justiça e ensina aos mansos o seu caminho. … Ao homem que teme ao Senhor, ele o instruirá no caminho que deve escolher (Sl 25.8,9,12).

Parece bastante claro que Deus nos leva, guia e instrui no caminho que devíamos escolher: A discussão que ocorre nos círculos evangélicos é sobre como Deus guia seu povo. Como ele torna sua vontade conhecida? Como ele comunica o melhor caminho a seguir? Há dois extremos a serem evitados. O primeiro é o excesso do superespiritual. Disposições interiores, providências extraordinárias, sonhos e vozes separadas da Palavra tornam-se infalivelmente cheias de autoridade. Muita bobagem tem sido feita em anos recentes em nome do que “Deus me disse para fazer” por um desses meios. O outro extremo a evitar-se é aquele de reduzir a orientação a nada mais do que a aplicação de princípios bíblicos. A Bíblia, nesse conceito, torna-se um manual para a vida que virtualmente dispensa ajuda sobrenatural. Essa posição tende para o Deísmo, um conceito que elimina qualquer interação pessoal ou comunicação significativa entre Deus e seu povo.

Em algum lugar entre estas duas posições encontra-se o equilíbrio bíblico. Deus guia seu povo. Ele faz isso por meio de seu Espírito. Mas o Espírito faz seu trabalho por meio de princípios sadios e, como veremos, através da interpretação de nossas circunstâncias.

A Iluminação do Espírito

A tradição reformada nega firmemente que Deus dê a seu povo alguma nova revelação, “tendo cessado aqueles antigos modos de Deus revelar a sua vontade a seu povo” (Confissão de Fé de Westminster, I.I). Mesmo aqueles que não concordam com isso são obrigados a concordar que Deus geralmente não guia seu povo falando-lhe audível ou diretamente. Ele não fez isso nos tempos bíblicos, e não o faz agora. O agricultor hebreu comum que buscasse a orientação de Deus quanto ao que plantar, trigo ou cevada, não recebia a resposta diretamente. Ele orava pela sabedoria necessária para tomar a decisão , e lhe era dada. Do mesmo modo, mesmo aqueles que crêem em profecia progressiva e em revelação por sonhos, são obrigados a concordar que este tipo de orientação é igualmente a rara exceção hoje. A maior parte de nossa orientação, a variedade diária para pessoas comuns, é muito mundana, até mesmo para o carismaticamente inclinado.

Todavia, o papel sobrenatural do Espírito Santo é mais vital ainda. Devemos ter o Espírito Santo se quisermos evitar cálculos errados e passos em falso. Contudo, sua obra, desde a conclusão do cânon da Escritura, deveria ser entendida como a de iluminação e não de inspiração . O Espírito Santo é a chave para orientar, mas ele não nos orienta dando novas informações (como em “fazer isso ou aquilo”), e sim iluminando a Palavra dada e nossas circunstâncias , mostrando-nos o caminho da sabedoria. Ele nos dá uma paz segura e convicção certa, garantindo-nos que estamos nos movendo numa direção consistente. Ele ilumina todos os fatores diante de nós, de modo que somos capazes de escolher aquilo que é sábio e bom.

Como ele faz isso? Já demos algumas sugestões. Para uma resposta mais completa avancemos para a próxima seção.

Princípios Evangélicos de Orientação

Vamos considerar como o Espírito faz esta obra. Respostas seguras podem ser encontradas revendo o ensino evangélico padrão sobre orientação.

Em primeiro lugar, Deus nos orienta através da Escritura. Isso é verdade tanto no sentido específico (a) proibindo certas opções e prescrevendo outras, quanto no sentido mais geral (b) dando forma aos desejos, pontos de vista e a perspectiva do filho de Deus. Por exemplo, se eu estivesse procurando casar-me, a Escritura me diria para não me casar com uma mulher não-cristã, como no item ‘a' . Mas, também daria forma a meu conceito sobre o que o casamento é, por que o casamento é uma “condição respeitável” , e sobre as qualidades a observar em uma esposa, como no item ‘b' . Deste modo, um homem solteiro piedoso procurará uma esposa cristã tanto porque isso é o que a Escritura requer, como porque a Escritura deu forma a seus desejos, de modo que é isso que ele deseja também, deseja até mesmo ardentemente. Se eu fosse procurar um emprego, a Escritura não me diria para procurar um emprego como um traficante ou gangster (bandido), como no item ‘a' , mas ela também me falaria sobre a dignidade do trabalho e para procurar um trabalho que maximiza meus dons, ao mesmo tempo em que sirvo a igreja e a sociedade, como no item ‘b' .

No sentido prescritivo e restritivo, lemos:

De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando-o segundo a tua palavra… Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti (Sl 119.9,11).

No sentido de dar forma, lemos:

Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para os meus caminhos (Sl 119.105).

Paulo pôde dizer que,

Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra (2Tm 3.16,17).

A Palavra de Deus nos equipa “para toda boa obra” limitando nossas opções e dando forma a nossos interesses. Ela nos ensina em um sentido positivo, informando-nos sobre a verdade e treinando-nos na justiça. Ela também nos reprova, corrigindo erros e mostrando-nos onde erramos o alvo.

A Bíblia é o primeiro meio pelo qual Deus guia seu povo. Mais do que qualquer outro fator, ela determina o tipo de vida que devemos levar. Milhares de opções são literalmente eliminadas pela influência da Bíblia sobre nós. Nada que é ilegal, imoral, egoísta ou sem amor, pode ser considerado. Mas novamente, é importante compreender que ela faz isso não apenas por meio de regras específicas (nosso item ‘a' ), mas também dando-nos a “mente de Cristo” (1Co 2.16, nosso item ‘b' ). Pela constante leitura, estudo e meditação na Palavra de Deus, começamos a “pensar os pensamentos de Deus após ele” , para usar a frase de Calvino. Assim, estar “cheio do Espírito” é “deixar a Palavra de Cristo habitar ricamente em você ” (compare Ef 5.18,19 com Cl 3.16). Ser “guiado pelo Espírito de Deus” deve especificamente fazer morrer a carne e andar no Espírito (Rm 8.12-14).

A Bíblia nos ensina a olhar para a vida e suas opções como Deus olharia para ela. Quando digerimos interiormente a Palavra de Deus, torna-se quase instintivo para nós, responder ao mundo da perspectiva que Deus tem, com base nos valores e prioridades divinas. Muitos que combatem com firmeza não vêem necessidade de olhar para nada além disso. Mais de uma vez eu tenho ouvido de pessoas com grande angústia de alma, quando elas não têm fundamentos sancionados biblicamente, debatendo-se com a dúvida se procuram ou não um divórcio. Elas perguntam: “O que Deus quer fazer comigo?” Não há mistério em responder nestas circunstâncias. Fique quieto! A chave para as dificuldades de muitos é a ignorância da mente de Cristo como revelada em sua Palavra e iluminada pelo Espírito. A chave para seu alívio é o conhecimento .

Em segundo lugar, Deus orienta-nos através da oração . Você está tendo dificuldade para tomar uma decisão? Você tem orado pedindo orientação? Você não tem porque não pedir, diz Tiago:
Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida (Tg 1.5).

Freqüentemente, na vida de Jesus, as principais decisões foram precedidas de oração (Lc 3.21; 5.16; 6.12; 9.18; 9.28,29; 11.2 e seguintes, etc.). Como foi verdadeiro na Escritura, podemos pensar sobre o papel da oração na orientação tanto num sentido geral quanto específico. Uma pessoa deveria orar a respeito de uma decisão particular, para que faça a coisa certa e que glorifique a Deus. Mas há também a realidade mais geral que está no contexto da oração, para que Deus nos dê respostas. Pode até mesmo ser que estejamos orando acerca de “y” quando vem uma clara resposta concernente a “x”. Muitas, e muitas vezes eu quero elaborar um esboço para meu sermão durante minhas devocionais matutinas, quando estou lendo uma passagem da Escritura não relacionada, ou orando sobre alguma outra coisa. Da mesma forma, freqüentemente tenho recebido claras e fortes convicções acerca de um ministério em nossa igreja – que devemos fazer isso ou parar de fazer aquilo. De fato, cada nova idéia sobre meu ministério pastoral tem ocorrido durante minhas orações matinais. Por que esta seria a tendência? Porque, quando pedimos, Deus ouve (e responde) e nós ouvimos . Quando oramos, (finalmente) diminuímos nosso ritmo e escutamos. Quando oramos, não estamos enchendo nossas mentes com notícias, música, conversas, entretenimentos, e deste modo temos uma oportunidade de ouvir Deus. Quantos casamentos são uma confusão porque esposos e esposas não estão parando para orar e escutar? Quantas escolhas vocacionais têm sido feitas tolamente porque as pessoas não têm sido humildes na oração e pacientemente esperado e escutado? Lembre-se, não menospreze a insensatez do coração humano ou a estupidez do cérebro humano. Somos lentos e propensos ao erro. Necessitamos da sabedoria de Deus se queremos viver sabiamente. Para obtê-la devemos pedir.

Em terceiro lugar, Deus nos orienta por meio de conselhos piedosos. Cada passo do caminho no processo de tomar decisões deveria incluir a advertência e o conselho do sábio. Muitas vezes, nossas fortes convicções são incompletas. Realmente não temos pensado em tudo completamente. Existem pontos cegos em nossa visão das coisas. Não temos considerado todos os fatores. Porque uma perspectiva empenada (torcida) é inevitável, é necessário que busquemos o conselho de outros. Sozinhos, somos fracos. “Mas na multidão de conselheiros há segurança” (Pv 11.14). A solidão conduz a presunção. “Mas com os que se aconselham se acha a sabedoria” (Pv 13.10).
O caminho do insensato aos seus próprios olhos parece reto, mas o sábio dá ouvidos aos conselhos (Pv 12.15).
Ouve o conselho e recebe a instrução, para que sejas sábio nos teus dias por vir (Pv 19.20).
Onde não há conselho fracassam os projetos, mas com os muitos conselheiros há bom êxito (Pv 15.22; cf. 20.18; 24.6).

A autoridade na igreja não deve ser dada a um único indivíduo. O governo deve ser coletivo e o poder distribuído. Mudanças no status quo devem vir somente através da deliberação coletiva. Sobre uma base regular em comissões e concílios a sabedoria será encontrada na “multidão de conselheiros” quando propostas são corrigidas, alteradas, melhoradas e, finalmente, rejeitadas ou aprovadas por meio da sabedoria coletiva dessas assembléias.

Uma outra área onde este princípio é bem ilustrado é na chamada para o ministério. É preciso fazer uma distinção entre as chamadas “interna” e “externa”. A primeira é a convicção de uma pessoa de que ela tem sido dotada e chamada para pregar. Mas essa chamada nunca é considerada como suficiente sozinha. A chamada “interna” deve ser confirmada pela última, a chamada “externa”, feita por meio da igreja. A igreja coletivamente avalia o sentido da chamada que um candidato tem e a confirma ou a rejeita. Isso serve para prevenir decisões não sábias que estão destinadas a frustrar e magoar o não dotado. Pesarosamente, nos últimos anos temos visto muitos jovens irem para o seminário, gastam três ou quatro anos e muito dinheiro sendo treinados, são ordenados e servem por vários anos na igreja, e então compreendem que não têm os dons. Abatidos, devastados financeira e emocionalmente, e, pior, algumas vezes profundamente cínicos acerca das coisas de Deus, eles abandonam o ministério. Conhecendo a insensatez e a falsidade de seu próprio coração (Jr 17.9), o homem sábio exigirá confirmação.

Estes são os princípios de orientação geralmente aceitos nas igrejas evangélicas. Estas são as coisas que o Espírito Santo usa para orientar seu povo. Nós as afirmaremos e, de certa forma, até as sublinharemos se tivermos uma mais profunda doutrina do pecado. Devemos ter a orientação de Deus em nossa tomada de decisão por causa de nossa capacidade para o erro. Esta orientação não é dada pelo Espírito Santo por meio de impulsos, vozes ou sonhos - todas estas coisas são muito subjetivas para corações inclinados ao pecado –, mas através do critério objetivo da Escritura, da oração e do conselho piedoso.

Os Suplementos

Embora os princípios acima sejam vitais, eles não vão longe o suficiente. Eles sentem falta da informação crítica que se alcança com a compreensão sobre a soberania de Deus. Podemos resumir esta doutrina com uma frase. Deus fez você o que você é. Através da criação, da redenção e da providência, Deus tem feito o que você é. Não tem havido acidentes; ele é o autor de todos os fatores. Porque ele é, podemos admitir que todas estas coisas trabalham juntas indicando o tipo de vida que Deus tem ordenado que eu deveria viver. No entendimento do que Deus tem feito conosco, pode ser encontrado profundo discernimento do que Deus quer para nós .

Deixe-me dar um exemplo. Quando Paulo foi chamado para ser um apóstolo? Na estrada de Damasco, quando Jesus apareceu a ele numa luz ofuscante? Num sentido, sim. Isso foi quando a chamada em si foi recebida. Mas, ele diz aos gálatas que Deus o tinha separado “antes de eu nascer” (Gl 1.15). Sim, ele foi chamado “pela sua graça” na estrada de Damasco. Mas Paulo pode recordar toda sua vida e ver a mão de Deus trabalhando. Deus o estava preparando para o trabalho de evangelização aos gentios enquanto ele ainda estava no ventre, depois em todo seu desenvolvimento, antes da sua conversão até a experiência na estrada de Damasco.

Tenho conhecido pessoas que foram convertidas quando adultos, que desprezam seus dons naturais e formação familiar recusando-se a fazer uso dessas coisas. Até onde os dons naturais e a formação familiar relacionam-se com a salvação? Paulo os considera como refugo (Fp 3.4-8). Mas ele nasceu com cidadania romana e, quando capturado, ele a usou (At 16.35-40; 25.11). Ele foi educado como um fariseu, e quando colocado contra a parede identificou-se com eles, defendendo-se como “fariseu, um filho de fariseus” (At 23.6). Ele recebeu a primeira porção de educação de Gamaliel e da Universidade de Tarsis, e é óbvio seu uso disto, através de seus escritos. Assim, quando ele se recorda de toda sua vida, ele vê o Deus soberano preparando-o para seu trabalho a cada passo do caminho. Todos os fatores foram ordenados por Deus para equipá-lo para a tarefa de levar o evangelho aos gentios, o primeiro grupo dos quais eram judeus que freqüentavam as sinagogas. Ele entendia o pensamento da seita mais rigorosa do Judaísmo e seus mais veementes oponentes, os fariseus, e mais tarde, os judaizantes. Por quê? Porque Deus tinha ordenado que ele deveria nascer numa família de fariseus. Ele conhecia o mundo judeu. Mas ele também nasceu numa família de fariseus, vivendo numa cidade gentílica, Tarsis. Assim, ele conhecia o mundo gentílico também. Ele podia falar e escrever a língua grega; tinha freqüentado suas escolas. Ele conhecia seu pensamento. Ele leu seus poetas (At 17.1 e seg.). Quando salvo, foram então adicionados dons espirituais em cima dos naturais. A criação, a providência e a redenção estavam em harmonia uma com a outra.

Como você aplica estes princípios? Estas são as perguntas que eu faria a alguém que está procurando a orientação de Deus. Quem fez você? Deus? Bem, então, o que ele tem feito você ser? Quais são seus dons naturais? Quais são seus interesses naturais? Por que Deus teria dado a você esses dons e interesses, a não ser que ele planejasse que você usasse, até mesmo os desenvolvesse? Não é honra ao Criador quando aquilo que ele cria, funciona com sua plena capacidade?

Então, eu faria uma segunda série de perguntas. Que oportunidades você tem tido? Quem as tem dado? Deus não é soberano sobre suas oportunidades e falta de oportunidades?

Deixe-me ilustrar com minha própria vida. Eu gosto de ler e estudar História; eu sempre gostei. De onde vem este desejo? Eu creio que ele é parte do que eu sou, de como fui criado. Algumas pessoas gostam de Mecânica, alguns de livros. Eu, de História. Porque é inato, não há explicação, exceto que Deus concedeu. Mas então, houve fatores encorajadores ao longo do caminho. Meu pai gostava de história de guerra e me expôs a uma grande quantidade dela. Meu professor do quinto grau, o velho Sr. Beacon, reconheceu meu interesse e jeito para História, e me estimulou. Quem ordenou e determinou estes fatores? O Deus da providência. Então, quando eu despertei espiritualmente, deveria ter esperado que o Deus da redenção conduzisse numa direção completamente contrária àquela que ele tinha desenvolvido todos aqueles anos? Ou haveria continuidade e convergência entre criação, providência e redenção? A menos que o Criador, o Governador e o Redentor sejam três deuses diferentes, cada um com programas diferentes, devíamos esperar harmonia. Eu penso que sempre soube que minha vocação envolveria o estudo de História. Quando comecei a discernir a chamada para o ministério, percebi que a chamada veio a alguém que já tinha descoberto que uma grande parte da interpretação bíblica está no entendimento da história, tanto o contexto histórico no qual a Escritura foi escrita, como a história da interpretação das várias passagens. A primeira vez que sentei para preparar um estudo da Bíblia, e ensiná-lo, tive a certeza de que estava fazendo o que de fato fui criado para fazer. Havia um senso de dever. Isso caiu bem. Toda minha vida tinha me preparado para aquele momento e para a tarefa do ministério do ensino.

Você pode me dizer as mesmas coisas sobre você. Você tem interesses e habilidades naturais. Houve oportunidades ao longo do caminho que alimentaram e desenvolveram esses interesses e habilidades. Quando você decide escolher uma matéria no colégio, seguir uma carreira, e depois um lugar para viver, estes fatores, todos determinados pelo Deus da criação, da providência e da redenção, não desempenharão um papel vital? Os dons e a chamada de Deus caminham de mãos dadas. O que ele fez você ser? Quais são seus interesses? Quais suas habilidades? Quais são suas oportunidades? Fazemos estas perguntas supondo que você já está aplicando os princípios evangélicos acima descritos. Você está na Palavra de Deus, orando e buscando conselhos piedosos. Mas visto que você está fazendo isso, pergunte-se o que seu Criador e Governador, seu pai e amigo, fez você ser? Você é bom com números? Prossiga então. Você é dotado em música? Desenvolva-o. Um bom organizador e realizador? Procure por trabalho administrativo. Sente que deve ensinar e pregar? Exercite seus dons.

Temos considerado principalmente vocações materiais, mas os mesmos princípios aplicam-se a todas as coisas. Quais são seus interesses? Quais são suas oportunidades? Ambas as vezes que selecionei seminários para freqüentar, a decisão foi longa e dolorosa, mas finalmente clara. Um californiano tolo, superficial, precisava sair dos Estados Unidos e estudar com um homem da qualidade e caráter de J.I. Packer. Isso “caiu bem”. Havia um senso de dever. O mesmo foi verdade quanto ao meu retorno aos Estados Unidos, para o Seminário Gordon-Conwell. Havia uma convergência de fatores que um dia deixaram-me – eu me lembro do momento – convencido que eu devia ir. Vir para minha igreja atual foi uma experiência semelhante. Eu gosto de História – aqui é uma igreja histórica. Eu creio na pregação – aqui está um púlpito alto. Eu creio na adoração tradicional, reverente, isso é o que eles procuravam. Eu adoro a Escócia – aqui está uma herança escocesa. Eu tinha sonhado em servir uma igreja central. Isso se adapta bem. Pareceu correto.

Examine por um momento a questão do casamento. Como sabia que não devia casar-me com alguém do norte da Alemanha? Porque o Governador do mundo nunca me deu uma oportunidade para fazer isso. Se ele tinha a intenção de casar-me com uma mulher do norte da Alemanha, ele o teria arranjado. Em vez disso, antes ele colocou a jovem Emily inequivocamente em minha vida. A seguir ele me deu um grande amor por ela. Aqui está uma questão interessante. Por que amamos as pessoas que amamos? Embora não deseje de modo algum insultar minha esposa, a resposta para mim e, a menos que eu erre meu palpite, a resposta para muitos de nós é , “eu não sei!” Nós amamos. Ah, posso falar sobre seu ser gracioso, inteligente, divertido, encantador e assim por diante. Mas a linha básica é, eu apenas amo. Eu não sei por que a amo. Eu apenas amo. Tem a ver com quem eu sou e com quem ela é, e como combinamos. Portanto, eu tomo estas coisas como indícios daquele que me fez “quem eu sou” para o que eu devo fazer. O Espírito deve iluminar nossas circunstâncias. Ele deve ajudar-nos a interpretar os fatores criacional e providencial. Mas quando tomamos os dons, oportunidade e interesses que ele nos tem dado e os usamos para sua glória, o agradamos. Quando o Dr. Werner von Braun construiu o foguete lunar Saturno 5 e ele decolou e cumpriu sua tarefa perfeitamente, ele glorificou o Dr. Von Braun. Mais do que isso, ele glorificou o Deus, que fez o homem, que fez o foguete Saturno 5. Assim é com todos os nossos dons. Quando os usamos, glorificamos o Deus que os deu. Sabemos o que ele quer pelo que ele tem feito. Aquilo para o que ele nos criou, é o que devemos procurar ser.

Há também uma liberdade no Cristianismo que acaba dizendo, como Agostinho fez. “Confie em Deus e faça o que você quiser” . Não somos cativos de uma “terceira” vontade de Deus, oculta. Temos a verdadeira liberdade para fazer o que queremos fazer, porque o que queremos (quando estamos andando com Cristo) foi determinado pelo que Deus nos fez ser . Por alguns anos, eu presumi que, se eu quisesse algo, Deus não o desejaria para mim. Eu presumia que a criação e a redenção eram estranhas uma a outra. Meus desejos naturais, eu supunha, eram carnais e inválidos. Esta pode ser uma perspectiva muito prejudicial e opressiva sobre a vida, sufocando os desejos naturais dados por Deus. Somos livres em Cristo para ser tudo que queremos ser. Certamente esta aproximação está aberta a abuso. É fácil procurar nossa própria vontade em nome da vontade de Deus. Mas quando estamos procurando a orientação do Espírito através da Palavra, da oração e de conselhos piedosos, encontraremos nossos desejos convergindo com os dele. O que queremos, somos ajudados a conhecer, é o que ele quer. Harmonia é a nova ênfase. O que ele nos salvou para sermos, revela ser a mesma coisa que ele nos criou para sermos. Somos libertos em Cristo para nos tornarmos tudo o que ele nos fez para ser.

A fé cristã é belamente holística. Ela não limita nossos esforços às coisas “espirituais”. Ela não limita o envolvimento de Deus a coisas sobrenaturais. Todas as coisas cooperam para o bem do povo de Deus. Ele nos orienta através da totalidade de sua obra, sua Palavra, seu mundo, com seu Espírito conduzindo e iluminando-nos a cada passo do caminho, até chegarmos ao lugar onde nos tornamos certos de que o próximo passo é tomado em sua sabedoria. Este senso de dever nunca é infalível. Nos equivocamos, mas é possível alcançar um alto grau de certeza de que, quando vemos nossa criação, providência e redenção convergirem, realmente estamos caminhando nos “caminhos da justiça” , nos caminhos que ele escolheu para nós.

Fonte: Extraído de “A Doutrina da Graça na Vida Prática”, Terry Johnson, Ed. Cultura Cristã, 2001. São Paulo, SP. p.173-188.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

DEUS É SOBERANO SOBRE AS DECISÕES HUMANAS

Por: John Frame

De acordo com muitas passagens das Escrituras, Deus controla as nossas decisões e atitudes livres, predizendo freqüentemente essas decisões muito antes de elas correrem. Ele declarou que, quando os israelitas subissem a Jerusalém para as festas anuais, as nações inimigas não cobiçariam a sua terra (Ex 34.24). Deus estava afirmando que controlaria a mente e o coração daqueles pagãos para que, naquelas ocasiões, não causassem problemas ao povo de Israel.

Quando Gideão liderou o seu pequeno exército contra o acampamento midianita, "o SENHOR tornou a espada de um contra o outro, e isto em todo o arraial" (Jz 7.22). Durante o exílio, Deus "fez" um chefe oficial babilônico "conceder a Daniel misericórdia e compreensão" (Dn 1.9). Depois do exílio, o Senhor "os tinha alegrado, mudando o coração do rei da Assíria a favor deles (Israel)" (Ed 6.22).

No momento da crucificação de Jesus, os soldados decidiram livremente lançar sortes sobre a túnica de Jesus, em vez de rasgá-la. No entanto, Deus havia predestinado essa decisão:
para se cumprir a Escritura: Repartiram entre si as minhas vestes e sobre a minha túnica lançaram sortes. (Jo 19.24, citando SI 22.18; cf. Jo 19.31-37).

O argumento de João foi que Deus não só sabia antecipadamente o que iria acontecer, mas, mais propriamente, que o acontecimento se deu para que as Escrituras pudessem ser cumpridas. De quem era a intenção de cumprir a Escritura por meio desse acontecimento? A causa primária da decisão dos soldados não foi a intenção deles, mas a intenção de Deus.

Os evangelhos afirmam, repetidas vezes, que certas coisas aconteceram para que as Escrituras se cumprissem. Muitos desses acontecimentos envolviam decisões livres de seres humanos (veja p. ex., Mt 1.20-23; 2.14,15, 22,23; 4.12-16). Em alguns casos, seres humanos (tais como o próprio Jesus em 4.12-16) podem ter tido a intenção consciente de cumprir as Escrituras. Em outros casos, eles não tinham essa intenção ou nem mesmo sabiam que estavam cumprindo as Escrituras (p. ex., Mt21.1-5; 26.55,56; At 13.27-29). Em todo caso, as Escrituras devem ser cumpridas (Mc 14.49).

O quadro que é formado por essa grande quantidade de passagens é que o propósito de Deus está por trás das livres decisões dos seres humanos. Freqüentemente, e por vezes muito antes de o acontecimento ocorrer, Deus nos diz o que um ser humano decidirá livremente o que vai fazer. O ponto aqui não é meramente que Deus tem conhecimento antecipado de um acontecimento, mas que ele está cumprindo o seu próprio propósito por meio dele. Esse propósito divino transmite uma certa necessidade (Gr. dei, cf. Mt 16.21; 24.6; Mc 8.31; 9.11; 13.7,10,14; Lc 9.22; 17.25; 24.26) à decisão humana para que realize o acontecimento predito.

Extraído de: http://cincosolas.blogspot.com/

terça-feira, 22 de junho de 2010

NÃO MAIS VIVO EU

Por: João Calvino

Morrer para a lei é renunciá-la (Gl 2) e libertar-se de seu domínio, de modo que não mais confiamos nela, e ela não mais nos mantém cativos sob o jugo de escravidão. Ou pode significar que, visto que ela entregou a todos nós à destruição, não encontramos nela vida alguma. Esse último ponto de vista se adequa melhor. Pois ele nega que Cristo seja o autor do mal, por que a lei é mais prejudicial do que útil. A lei traz em seu próprio âmago a maldição que nos mata. Daí, segue-se que a morte efetuada pela lei é verdadeiramente implacável. Com ela é contrastada outro tipo de morte, ou seja: na comunhão vivificante da cruz de Cristo. Ele diz que, por estar crucificado juntamente com Cristo, ele pode começar a viver. A pontuação comum desta passagem obscurece seu significado. Lê-se: 'Através da lei morri para a lei, para que eu pudesse viver para Deus." Mas o contexto flui mais polidamente assim: 'Através da lei, morri para a lei", e então separadamente: "Para que eu pudesse viver para Deus, estou crucificado com Cristo."

Para que eu pudesse viver. O apóstolo mostra que o tipo de morte que os falsos apóstolos lançavam mão como base para suas querelas pode ser solicitado. Pois ele quer dizer que estamos mortos para a lei, não que podemos viver para o pecado, e, sim, para Deus. "Viver para Deus" às vezes significa regular nossa vida segundo sua vontade, de modo que nada mais cogitamos em toda a nossa vida além de sermos aprovados por ele. Mas aqui significa viver, por assim dizer, a vida de Deus. Dessa forma a antítese se harmonizará. Pois seja qual for o sentido de morrermos para o pecado, no mesmo sentido vivemos para Deus. Em suma, Paulo nos diz que essa morte não é mortal, e, sim, a origem de uma vida melhor. Pois Deus nos resgata do naufrágio da lei e, mediante sua graça, nos restaura para outra vida. Nada direi de outras interpretações. Este me parece ser o significado real do apóstolo.

Ao dizer que fora crucificado com Cristo, ele está explicando como nós, que estamos mortos para a lei, vivemos para Deus. Enxertados na morte de Cristo, extraímos uma energia secreta dela, como os brotos [extraem vida] das raízes. Também Cristo cravou [em sua cruz] o manuscrito da lei, o qual nos era contrário. Portanto, sendo crucificados com ele, somos eximidos de toda a maldição e culpa [provenientes] da lei. Atacar e descartar esse livramento é fazer a cruz de Cristo algo vazio e fútil. Lembremo-nos, porém, que somos libertados do jugo da lei somente quando somos feitos um com Cristo, como os brotos extraem das raízes sua seiva somente pelo desenvolvimento de uma só natureza.

Não mais eu. O termo morte é sempre odioso ao espírito humano. Havendo dito que estamos pregados na cruz juntamente com Cristo, ele acrescenta que tal fato nos faz vi-vos. Ao mesmo tempo, ele explica o que quer dizer com "viver para Deus". Ele não vive através de sua própria vida, mas é animado pelo poder secreto de Cristo, de modo que se pode dizer que Cristo vive e cresce nele. Porque, assim como a alma energiza o corpo, também Cristo comunica vida a seus membros. Eis uma notável afirmação, ou seja, que os crentes vivem fora de si mesmos [fideles extra se vivere], isto é, em Cristo. Isso só se pode dar se mantiverem genuína e verdadeira comunicação com ele [veram cum ipso et substantialem communicationem]. Cristo vive em nós de duas formas. Uma consiste em ele nos governar por meio de seu Espírito e em dirigir todas as nossas ações. A outra consiste naquilo que ele nos concede pela participação em sua justiça, ou seja, que, embora nada possamos fazer por nós mesmos, somos aceitos por Deus, nele [Cristo]. A primeira se relaciona com a regeneração; a segunda, com a espontânea aceitação da justiça, e é assim que considero a passagem. Mas se alguém, ao contrário, quiser aplicá-la a ambas, de boa vontade concordarei.
E a vida que agora vivo na carne. Dificilmente exista aqui uma cláusula que não tenha sido rasgada por uma variedade de interpretações. Alguns explicam o termo 'carne' como sendo a depravação da natureza corrupta. Paulo, porém, pretende simplesmente significar a vida corporal De outra forma, poder-se-ia apresentar a seguinte objeção: "Você vive uma vida corporal; e enquanto este corpo corruptível exercer suas funções, enquanto for sustentado por comida e bebida, esta não é a vida celestial de Cristo. Portanto, é um paradoxo irracional asseverar que, enquanto você estiver vivendo uma vida humana ordinária, sua vida não é propriamente sua." Paulo replica que ela consiste na fé, o que implica que ela é um segredo oculto dos sentidos humanos. A vida, pois, que obtemos pela fé, não é visível aos olhos, senão que é interiormente perceptível à consciência pelo poder do Espírito. E assim a vida corporal não nos impede de possuirmos a vida celestial, pela fé. "E, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais com Cristo Jesus" [Ef 2.6]. Também: "Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus" [Ef 2.19]. Uma vez mais: "Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo" [Fp 3.20]. Os escritos de Paulo estão saturados de afirmações afins, a saber: que tanto vivemos no mundo como também já vivemos no. céu; não só porque nossa Cabeça está lá, mas porque, em virtude da união [com ele], temos uma vida em comum com ele [Jo 14].

Que me amou. Esta cláusula é adicionada para expressar o poder da fé, pois imediatamente poderia ocorrer de alguém perguntar: "Quando a fé recebe tal poder para comunicar-nos a vida de Cristo?" Ele, pois, declara que o fundamento [hypostasis] sobre o qual a fé repousa é o amor e a morte de Cristo; pois é à luz desse fato que o efeito da fé deve ser julgado. Por que razão vivemos pela fé de Cristo? Porque ele nos amou e a si mesmo se deu por nós. Digo que o amor com que Cristo nos abraçou, o levou a unir-se a nós. E tal coisa ele completou através de sua morte. Ao doar-se por nós, ele sofreu em nossa pessoa[in nostra persona passus est]. Além do mais, a fé nos faz partícipes de tudo o que ela encontra em Cristo. Tal menção do amor significa o mesmo que João disse: "Nós amamos porque ele nos amou primeiro" [1 Jo 4.19]. Pois se algum mérito propriamente nosso o tivesse movido a redimir-nos, tal causa teria sido declarada. Agora, porém, Paulo atribui tudo ao amor; portanto, é gratuito. Observemos a ordem: "Ele nos amou e a si mesmo se deu por nós." É como se dissesse: "Ele não teve outra razão para morrer, senão porque nos amou", e isso se deu quando ainda éramos inimigos, segundo cie mesmo declara em Romanos 5.20.

A si mesmo se deu. Não há palavras que expressem perfeitamente o que tal coisa significa. Pois, quem poderá encontrar uma língua que possa declarar a excelência do Filho de Deus? Todavia, foi ele mesmo que a si mesmo se deu como o preço àz nossa redenção. A expiação, a purificação, a satisfação e todos os frutos que recebemos da morte de Cristo estão incluídos nas palavras: "a si mesmo se entregou".

Por mim é muito enfático. Não é suficiente considerar Cristo como havendo morrido pela salvação do mundo; cada pessoa deve reivindicar o efeito e a posse dessa graça para si pessoalmente.

Fonte: http://www.ocalvinista.com/2010/05/nao-mais-vivo-eu-joao-calvino.html