quinta-feira, 17 de junho de 2010

POR QUE SOMOS PRESBITERIANOS?

Parte 01 - Por que somos presbiterianos?

No mês (Agosto/2009), nós presbiterianos brasileiros, comemoramos 150 anos. O primeiro missionário presbiteriano, Rev. Ashbel Green Simonton deixou os EUA, em 18 de Junho de 1859, embarcando no navio “Banshee” rumo ao Brasil. Chegou ao Rio de Janeiro, em 12 de Agosto de 1859, com 27 anos de idade. Em 9 de Dezembro de 1867, o Rev. Simonton morreu em São Paulo de febre amarela (?) aos 34 anos, deixando implantado em nosso amado país, a semente do evangelho de Cristo e o início da Reforma protestante.

O nosso sistema de governo presbiteriano significa que somos regidos pelos presbíteros. Não somos congregacionais (onde todos decidem pelo voto direto), nem episcopais (onde apenas um superior decide sobre os demais), mas somos uma igreja democrática que é representada pelos presbíteros escolhidos pela igreja local. A base do nosso governo é que o concílio é soberano.

Estes são os princípios doutrinários do nosso sistema de governo: 1) Cristo é a Cabeça da sua Igreja e a Fonte de toda a sua autoridade. Esta autoridade encontra-se escrita na Escritura, de modo que, todos têm acesso ao seu conhecimento. 2) Todos os crentes devem estar unidos entre si e ligados diretamente a Cristo, assim como os diversos membros de um corpo, que se subordinam à direção da cabeça espiritual. 3) Cristo exerce a sua autoridade em sua Igreja, por meio da Palavra de Deus e do seu Espírito. 4) O próprio Cristo determinou a natureza do governo da sua Igreja. 5) Cristo dotou tanto os membros comuns como aos oficiais da sua Igreja com autoridade, sendo que os oficiais receberam adicional autoridade, como é requisito para realização dos seus respectivos deveres. 6) Cristo estabeleceu apóstolos como os seus substitutos, entretanto, eram de caráter transitório. O ofício apostólico cessou, mas a sua autoridade é preservada pelos seus escritos, isto é, o Novo Testamento. 7) Cristo providenciou para o específico exercício da autoridade por meio de representantes (os presbíteros), a quem separou para zelar da preservação da sã doutrina, fiel adoração e disciplina na Igreja. Os presbíteros têm a responsabilidade permanente de pastorear a Igreja de Cristo. 8) A pluralidade de presbíteros numa igreja local é a liderança permanente até a segunda vinda de Cristo.

Parte 02 - Por que somos presbiterianos?

A fiel pregação da Palavra sempre foi uma expressiva característica das Igrejas herdeiras da Reforma do século 16. Por isso, o culto presbiteriano estrutura-se com sólida base nas Escrituras, cheio de interpolações da Escritura [leitura, cânticos e hinos, exposição, etc.], e para a pregação da Escritura. Deus deve falar com o Seu povo, enquanto este O adora com sincera devoção.

Manejar bem a Palavra da verdade tem sido uma referência dos crentes presbiterianos. Temos como alvo o preparo para sabermos dar razão da nossa fé! Os novos movimentos de doutrina, que vêm e vão, e deixam estragos nas igrejas evangélicas, pouco afetam o nosso meio, pois todo ensino estranho à Escritura é rejeitado e abominado com vigor. Olhamos com desconfiança e cautela o espírito de inovação e modismo, todavia, reconhecemos a necessidade de discernir os tempos e aceitar as mudanças necessárias, sem abandonar a nossa essência. Cremos que podemos ter unidade no essencial, liberdade no não-essencial e amor em tudo.

Mantemos a boa preocupação de termos pastores teologicamente bem treinados. Homens com vida piedosa e conhecimento que com amor e zelo, pastoreiem o rebanho de Cristo. Esperamos no Senhor o cumprimento da promessa de que "dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos apascentem com conhecimento e com inteligência" (Jr 3:15). Pastores que saibam aplicar as Escrituras à todas as questões da vida com profundidade, coerência e fidelidade. Saibam nutrir as ovelhas, e não se preocupem em entreter os bodes.

A Escritura deve ser corretamente manejada com as mãos, entendida com a mente e guardada no coração. O nosso tema é: a única regra de fé e prática é a Escritura. A Palavra de Deus instruí todas as coisas necessárias para a salvação. Assim, tudo o que nela não se lê, nem por ela se pode provar, não deve ser exigido de pessoa alguma que seja crido como artigo de fé ou julgado como exigido ou necessário para a salvação. Cremos que somente a Escritura Sagrada é autoridade absoluta, definindo as nossas convicções doutrinárias, pois é onde encontramos a verdadeira sabedoria que rege as nossas decisões, e molda o nosso comportamento, como também determina a qualidade dos nossos relacionamentos. Somente obedecendo a Escritura Sagrada poderemos glorificar a Deus.

Parte 03 - Por que somos presbiterianos?

"Eu sei em que tenho crido!" Esta deve ser a postura de todo membro presbiteriano. Para que esta convicção seja possível, temos diversos recursos para capacitar e treinar os nossos membros, como por exemplo, o discipulado, os grupos familiares, a classe de Catecúmenos, a Escola Dominical, estudos durante a semana de doutrina, literatura diversificada, sites, etc. Cada membro tem a oportunidade de conversar com o seu pastor e esclarecer as suas dúvidas.

Não somos uma denominação confusa, nem sem identidade. Desde o século 16, a nossa história tem testemunhado, em períodos, lugares e circunstâncias diferentes que o nosso Deus levantou servos zelosos e fiéis com a verdade e a pureza da Igreja para que lutassem pela fé que foi entregue aos santos (Jd vs.3). Somos Calvinistas. Entretanto, não podemos cair no erro de pensar que somos limitados ao ensino de um único homem. O reformador francês João Calvino nunca teve a intenção, nem permitiu que se criasse uma denominação com o seu nome. Mas, o seu nome foi emprestado à um sistema doutrinário que possuí características que diferem de outros sistemas doutrinários dentro do Cristianismo. Calvinismo é o sistema que "repousa sobre uma profunda apreensão de Deus em Sua majestade, com a inevitável e estimulante realização da exata natureza da relação que Ele sustenta na criação como ela é, e em particular, na criatura pecadora. Aquele que crê em Deus sem reservas, está determinado a deixar que Deus seja Deus em todos os seus pensamentos, sentimentos e volições - em inteiro compasso das suas atividades vitais, intelectuais, morais e espirituais, através de suas relações pessoais, sociais e religiosas" (B.B. Warfield, Calvin and Calvinism in: Works, vol. 5, pp. 354).

A nossa liderança não pode instruir os seus membros conforme as suas predileções pessoais, nem movidos pela moda doutrinária do momento. O nosso princípio básico orientador é: a Escritura Sagrada é a nossa única regra de fé e prática. Os pastores e presbíteros devem ser fiéis ao sistema doutrinário e governo presbiteriano. O direito que a Igreja Presbiteriana do Brasil tem de determinar as qualificações dos candidatos a cargos eclesiásticos e de requerer-lhes fidelidade é constitucional, moral e bíblico. Por isso, quando alguém anseia tornar-se um ministro ou oficial presbiteriano, ele deve prestrar solene juramento público, requerendo-lhe conhecimento, entendimento, obediência e compromisso com a nossa identidade reformada.

A família presbiteriana e reformada no mundo está unida pela adoção dos padrões doutrinários de Westminster. Entre 1643 à 1646, se reuniu em Londres a Assembléia de Westminster, que foi um grupo com mais de 120 teólogos e líderes que vieram de diversas partes do Reino Unido (Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda) e visitantes de outros países de confissão Calvinista. Este grupo dividiu-se em comissões e travaram em minunciosos debates, produzindo documentos doutrinários coerentes, precisos, concisos e vigorosos. Estes textos são conhecidos como os Padrões de Westminster: a Confissão de Fé e Catecismos Breve e Maior. Estes livros são usados como referência confessional, recurso de discipulado, treinamento de novos membros e devocional para o culto doméstico, em que cada família pode nutrir o seu lar com sã doutrina.

Além dos textos originais algumas sugestões de leituras adicionais poderão auxiliar o estudo dos nossos Padrões Doutrinários. Estes são comentários expositivos dos símbolos de Westminster publicados pela Editora Os Puritanos:

1. A .A. Hodge, Confissão de Fé de Westminster Comentada, págs. 596;
2. Johannes G. Vos, Catecismo Maior de Westminster Comentado, págs. 656;
3. Leonard T. van Horn, Estudos no Breve Catecismo de Westminster, págs. 198.

Aqueles que desejarem realizar um estudo do nosso sistema de doutrina pode adquirir bons livros da nossa Editora Cultura Cristã ou da Editora Os Puritanos. [Acesse www.ipb.org.br – Igreja Presbiteriana do Brasil]

Parte 04 - Por que somos presbiterianos?

Cremos que o presbiterianismo não é meramente uma parte importante do Cristianismo. A fé reformada é um conjunto de verdades que formam um sistema que modela influentemente a vida dos presbiterianos. Este conjunto de doutrinas sistematizadas são chamadas de Calvinismo. Entretanto, não podemos cair no engano de pensar que ele é um sistema doutrinário útil somente para a religião. Calvinismo é uma cosmovisão! Ou seja, toda a nossa visão de mundo é definida pela nossa convicção bíblica. Isto significa que toda a nossa interpretação de cada experiência que temos com Deus, conosco, com o próximo e tudo o que existe é resultado das nossas convicções.

O Calvinismo é um sistema de vida tão completo que é suficiente para modelar cada esfera da sociedade. Quando falamos em Calvinismo não podemos nos limitar a pensar em religião. O teólogo e estadista holandês Abraham Kuyper palestrando na Univerdade Princeton declarou que "não há um só lugar no Universo, onde Cristo não possa colocar o seu dedo e dizer: 'isto é meu'". Tudo pertence a Deus e Ele soberanamente é Senhor sobre tudo, não apenas a nossa religião, mas a política, a economia, a ciência, a arte e todas as demais esferas da sociedade devem ser submetidas aos preceitos de Deus. Por isso, não podemos viver dois estilos de vida: uma enquanto crente e, outra como uma vida secular. Somos servos de Deus, e onde estivermos, em nossas atividades e relações devemos manifestar uma mentalidade calvinista.

Como um sistema de pensamento o Calvinismo tem forjado indivíduos com um estilo vigoroso de vida, como também tem modelado culturas inteiras. Todos os países que aderiram a Reforma no século 16, sem excessão, se tornaram grandes potências mundiais! Coincidência? Claro que não! O erudito alemão Marx Weber ficou tão impressionado em perceber esta verdade, que em sua obra "A ética protestante e o espírito do Capitalismo" descreveu como a convicção teológica dos calvinistas produziu o seu desenvolvimento social. Mas o Calvinismo somente prospera por causa da sua obediência ao ensino da Escritura Sagrada, que é aplicada a todas as necessidades do ser humano, debaixo da dependência do Senhor. A nossa preocupação não é apenas com a alma e a vida eterna, mas em suprir todas as necessidades do ser humano, oferecendo uma dignidade presente que o pecado rouba e que gera a miséria em todas as esferas da vida.

Parte 05 - Por que somos presbiterianos?

O principal emblema teológico do presbiterianismo não é a sua eclesiologia [doutrina da Igreja], mas a sua teontologia [doutrina de Deus]. A doutrina da soberania é o centro da convicção presbiteriana. Todas as demais doutrinas são diretas ou por implicação resultado deste tema unificador. Héber C. de Campos observa que "o Deus que é pregado em muitos púlpitos e ensinado nas escolas dominicais, e lido em grande parte dos livros evangélicos, não passa de uma adaptação da divindade das Escrituras, uma ficção do sentimentalismo humano. Esse Deus, cuja vontade pode ser resistida, cujos desígnios podem ser frustrados e cujos propósitos podem ser derrotados, não é digno de nossa verdadeira adoração. De fato, esse não é o Deus das Escrituras."[1]

A soberania de Deus não anula a responsabilidade humana. W.E. Roberts de forma quase poética afirma esta verdade, declarando que "quanto mais claramente Deus é compreendido e a sua soberania reconhecida, tanto mais aceitáveis e obrigatórios se tornam os seguintes princípios: o homem é um ser livre, predestinado; a vida reta é um dever perpétuo estabelecido por Deus; a responsabilidade moral do homem foi preordenada pelo Espírito Divino; o juízo de Deus é inevitável e a libertação do castigo e da condenação só é possível mediante Jesus Cristo. A soberania, a lei e a justiça de Deus, em harmonia com a liberdade humana, fazem dos conceitos presbiterianos sobre o dever uma força moral austera e poderosa."[2]
Arminianismo num se aprende..., todo ser humano nasce arminiano! Entender e aceitar o Calvinismo é receber a graça que ofende o nosso orgulho, e repreende a desgraçada pretensão de ser livre [de Deus] e a estupidez de pensar que sou capaz de resistir ao soberano Senhor do universo, numa insensata e inútil crença de que "sou eu quem determina o meu futuro" e não o trino Deus!!! Concluir que o imperfeito, limitado, instável, insensato, confuso, ignorante, inábil, depravado e morto espiritualmente é capaz de frustrar o perfeito, infinito, imutável, sábio, onisciente e soberano Deus, é no mínimo não ter sequer noção de causação. O Arminianismo é uma tolice, se não bastasse ser antibíblico.

Creio que não é ofensivo ao meu Senhor Jesus quem/como deve ser batizado, nem quem/como se governa a igreja local [penso serem assuntos secundários ou periféricos em questão de doutrina, mas não menos importantes para a boa saúde da Igreja], mas entendo que é altamente ofensivo roubar a Sua glória de determinar a administração da Sua graça, bem como cheira blasfêmia dizer que o desgraçado pecador que é merecedor da mais intensa angústia do inferno, pretende ser superior em vontade à Ele.

Notas:
[1] Héber C. de Campos, O Ser de Deus e os seus Atributos (São Paulo, Ed. Cultura Cristã, 1999), p. 351
[2] W.E. Roberts, O Sistema Presbiteriano (São Paulo, Ed. Cultura Cristã, 3ªed., 2003), p. 28

Parte 06 - Por que somos presbiterianos?

A Igreja Presbiteriana possuí o seu sistema doutrinário centrado na Escritura Sagrada. Ela se preocupa em andar pautada e regulada pela Bíblia, que é a Palavra de Deus. Desde a Reforma do século 16 foi ensinada a doutrina da Sola Scriptura – ou seja, que a Escritura é a única fonte e regra de autoridade. Isto significa que a base da nossa doutrina, forma de governo, culto e práticas eclesiásticas não está no tradicionalismo, no racionalismo, no subjetivismo, no relativismo, no pragmatismo, ou no pluralismo, mas extraída e fundamentada somente na Escritura Sagrada, por que cremos que ela é a verdade absoluta revelando a vontade de Deus.

Cremos que a Palavra de Deus registrada no Antigo e no Novo Testamento, sendo escrita por autores humanos, foi inspirada por Deus (2 Tm 3:16) garantindo a sua inerrância, autoridade, suficiência e clareza. Absolutas verdades existem na mente de Deus, que através da revelação elas vêm à mente do escritor original, assim na inspiração esta revelação registra-se em Escritura: a Palavra de Deus em palavras humanas. Com a preservação dos manuscritos temos os textos atuais que precisam ser criteriosamente comparados para termos o que foi originalmente escrito pelos autores. Pela tradução obtemos as nossas versões que procuram transmitir fielmente o significado essencial do texto original. Por fim, através da interpretação a verdade chega a mente do leitor representando proposicionalmente a verdade original da mente de Deus.

As Escrituras são a autoridade suprema em que todas as questões doutrinárias e eclesiásticas devem ser decididas (Dt 4:2). Esta doutrina é importantíssima para a purificação da Igreja. Tudo o que nela não se lê, nem por ela se pode provar, não deve ser exigido de pessoa alguma que seja crido como artigo de Fé ou, julgado como exigência ou, necessário para a salvação. Na Bíblia o homem encontra tudo o que precisa saber, e tudo o que necessita fazer a fim de que seja salvo, e viva de modo agradável a Deus, servindo e adorando-O (2 Tm 3:16-17; 1 Jo 4:1; Ap 22:18). Somente a Escritura Sagrada é autoridade absoluta para definir as nossas convicções, porque apenas nela encontramos a verdadeira sabedoria do alto. Ela rege as nossas decisões e molda o nosso comportamento, como também determina a qualidade dos nossos relacionamentos.

Parte 07 - Por que somos presbiterianos?

Cremos que a salvação do homem não decorre de nenhum tipo de boas obras que venha a realizar, nem de alguma virtude ou mérito pessoal, mas sim do favor imerecido de Deus (Rm 3:20,24, 28; Ef 2:1-10). Em decorrência da Queda, todo ser humano nasce com uma natureza totalmente corrompida, de modo que não pode vir a agradar a Deus, a não ser pela ação soberana e eficaz do Espírito Santo, o único capaz de iluminar corações em trevas e convencer o homem do pecado, da culpa, da graça e da misericórdia de Deus em Cristo Jesus (Rm 3:19,20).

Todo ser humano em seu estado natural é escravo do pecado. O teólogo puritano Stephen Charnock observou que “todo pecado é uma espécie de amaldiçoar a Deus no coração. O homem tenta destruir e banir Deus do coração, não realmente, mas virtualmente; não na intenção consciente de cada iniqüidade, mas na natureza de cada pecado.”[1] A dureza de coração lhe é normal, por que ele está rígido como uma pedra (Ez 36:26-27).

O livre arbítrio perdeu-se com a Queda. A capacidade de agir contrário à própria natureza foi perdida com a escravidão do pecado. No início, Adão sendo santo foi capaz de escolher contrário à sua inclinação natural de perfeita santidade e, decidiu pecar. Tornando-se escravo do pecado, o primeiro homem livremente passou a agir de acordo com a escravidão dos desejos mais fortes da sua alma corrompida pela iniqüidade, e por si mesmo é incapaz de não pecar. Ele é livre, mas a sua liberdade é usada tendenciosamente para pecar de conformidade com os impulsos de sua inclinação para o pecado. Se ele for deixado para si mesmo, ele sempre agirá de acordo com a sua disposição interna, ou seja, naturalmente sempre escolherá pecar (Rm 1: 24-32; 3:9-18; 7:7-25; Gl 5:16-21; Ef 2:1-10).

A causa da nossa salvação é devido a ação da livre e soberana graça do nosso Deus. A Confissão de Fé de Westminster declara que "todos aqueles que Deus predestinou para a vida, e só esses, é ele servido, no tempo por ele determinado e aceito, chamar eficazmente pela sua palavra e pelo seu Espírito, tirando-os por Jesus Cristo daquele estado de pecado e morte em que estão por natureza, e transpondo-os para a graça e salvação. Isto ele o faz, iluminando os seus entendimentos espiritualmente a fim de compreenderem as coisas de Deus para a salvação, tirando-lhes os seus corações de pedra e dando lhes corações de carne, renovando as suas vontades e determinando-as pela sua onipotência para aquilo que é bom e atraindo-os eficazmente a Jesus Cristo, mas de maneira que eles vêm mui livremente, sendo para isso dispostos pela sua graça."[2]

Notas:
[1] Stephen Charnock, The Existence and the Attributes of God (Grand Rapids, Baker Books, 2000), vol. 1, pág. 93
[2] Confissão de Fé de Westminster, X.1

Parte 8 - Por que somos presbiterianos?

Cremos que a causa da nossa salvação não depende das nossas virtudes pessoais, nem de qualquer esforço que envolva o merecimento conquistado pelas nossas virtudes. O único meio pelo qual o Espírito Santo aplica a salvação ao coração humano é a fé. Entretanto, deve ser lembrado que a fé é dom de Deus e não uma virtude humana (Rm 4:5; Ef 2:8-9; Fp 1:9). Mas, mesmo que ela fosse uma virtude humana ainda assim seria imperfeita, insuficiente e desmerecedora da graça de Deus. O Breve Catecismo de Westminster define este dom: fé em Jesus Cristo é uma graça salvadora, pela qual o recebemos e confiamos só nele para a salvação, como ele nos é oferecido no Evangelho (BCW perg/resp. 86).

A justificação é pela fé somente nas obras de Cristo. Ela é a causa instrumental da nossa salvação. Nenhum homem pode ser salvo, a não ser que creia na eficácia da expiação realizada por Cristo, confiando exclusivamente nele (Rm 1:17; Tt 3:4-7; 1 Jo 5:1). A justiça de Cristo que é imputada sobre nós nos concede, garante e mantém-nos aceitos na comunhão eterna de Deus.

A fé envolve toda a personalidade do indivíduo. Este dom divino move vivificando salvificamente o entendimento, a vontade e as emoções. Entendemos por fé, não um sentimento vago e infundado, ou uma mera credulidade (Hb 11:1-3); mas, ela é o dom do Espírito Santo, que é a capacidade crêr com um correto conhecimento, com uma firme convicção e confiança na Palavra de Deus que aponta para o senhorio de Cristo. Pela fé o eleito de Deus é convencido da culpa e do pecado, e se arrepende com real tristeza e, estende as mãos vazias para receber de Deus o perdão imerecido, descansando na suficiência da justiça de Cristo (Rm 5:1; Hb 11:6).

A verdadeira fé produz santas e boas obras que evidenciam a salvação e glorificam a Deus. A salvação é pela fé somente, mas a fé que salva nunca está sozinha. A fé salvadora produz amor prático ao próximo, santidade pessoal em obediência à Palavra de Deus. A Escritura Sagrada declara que "pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas" (Ef 2:10).

Parte 9 - Por que somos presbiterianos?

Somente através da obra de Cristo poderemos ser salvos. Não temos nenhum outro mediador pelo qual seja possível acontecer uma reconciliação com Deus, a não ser Jesus Cristo, a segunda pessoa da Trindade (1 Tm 2:5). Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1:29). Cremos que a Sua morte expiatória na cruz satisfaz a justiça de Deus e, elimina completamente a culpa de todos aqueles que nEle crêem (Rm 3:24-25), redimindo-os dos seus pecados (Ef 1:7); e, que a Sua humilhação durante o Seu ministério foi perfeitamente justa, santa e obediente à lei de Deus. A Sua obra Lhe confere autoridade para declarar justo todos quantos o Pai Lhe deu (Jo 6:37,39,65). Toda a obra expiatória de Cristo é suficiente para a nossa salvação (Rm 8:1).

O nosso Senhor Jesus se fez um de nós para ser o nosso substituto. Ele é o nosso único representante diante de Deus. A Aliança da Graça estipulava que o Filho viesse ao mundo para cumprir a vontade do Pai, ou seja, que viesse morrer pelos Seus escolhidos (Jo 4:34; 6:38-40; 10:10). A nossa culpa e merecida condenação caiu sobre Ele (Hb 2:10). O Filho de Deus não desceu ao lugar chamado inferno, mas os sofrimentos do inferno se fizeram presentes em Sua alma. O Pai retirou a Sua presença consoladora e derramou sobre Jesus a Sua ira divina punindo o nosso pecado nEle. As nossas iniqüidades estavam sobre o Filho, e a justa ira de Deus veio sobre o nosso pecado na cruz (Hb 2:10). Jesus tornou-se amaldiçoado em nosso lugar sobre o madeiro (2 Co 5:21).

A Confissão de Fé de Westminster declara que "aprouve a Deus em seu eterno propósito, escolher e ordenar o Senhor Jesus, seu Filho Unigênito, para ser o Mediador entre Deus e o homem, o Profeta, Sacerdote e Rei, o Cabeça e Salvador de sua Igreja, o Herdeiro de todas as coisas e o Juiz do Mundo; e deu-lhe desde toda a eternidade um povo para ser sua semente e para, no tempo devido, ser por ele remido, chamado, justificado, santificado e glorificado" (CFW VIII.1).

A justificação de Cristo sobre nós exige que tenhamos uma vida coerente com a Sua justiça. O apóstolo Pedro declara que “porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos, o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente, carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados” (1 Pe 2:21-24).

Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual se tornou a pedra angular. E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos (At 4:11-12).

Parte 10 - Por que somos presbiterianos?

Cremos no único Deus, que é Senhor da história e do universo, "que faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade" (Ef 1:11). A nossa convicção está em que a finalidade principal da vida humana não é somente o bem-estar, a saúde física, a prosperidade, a felicidade, ou mesmo a salvação do homem, mas, a glória de Deus, o louvor da santidade, justiça, fidelidade, poder, sabedoria, graça, bondade e de todos os Seus atributos. Deus não existe para satisfazer as necessidades do homem, embora Ele o faça por amor de Si mesmo (Ez 20:14). O homem foi criado para o louvor da Sua glória (Rm 11:36; Ef 1:6-14).[1] O Rev. Johannes G. Vos comentando o Catecismo Maior de Westminster observa que "quem pensa em gozar a Deus sem O glorificar corre o risco de supor que Deus existe para o homem, e não o homem para Deus. Enfatizar o gozar a Deus mais do que o glorificar a Deus resultará num tipo de religião falsamente mística ou
emocional".[2]

É certo que ela transcende ao nosso entendimento, mas ela pode ser percebida pela Sua manifestação na criação e pela revelada Palavra da Deus. João Calvino no início de suas Institutas escreve que "a soma total da nossa sabedoria, a que merece o nome de sabedoria verdadeira e certa, abrange estas duas partes: o conhecimento que se pode ter de Deus, e o de nós mesmos. Quanto ao primeiro, deve-se mostrar não somente que há um só Deus, a quem é necessário que todos prestem honra e adorem, mas também que Ele é a fonte de toda verdade, sabedoria, bondade, justiça, juízo, misericórdia, poder e santidade, para que dele aprendamos a ouvir e a esperar todas as coisas. Deve-se, pois, reconhecer, com louvor e ação de graças, que tudo dele procede."[2]

Mas, por que a nossa felicidade depende da glória de Deus? Porque a nossa dignidade e felicidade depende de vivermos sem a insensatez, vícios e destruição que o pecado causa. Somente quando obedecemos a vontade de Deus, segundo as Escrituras, podemos andar aceitáveis em Sua presença e desfrutar dos benefícios das Suas promessas. Aurélio Agostinho em suas Confissões declarou que "Tu o incitas para que sinta prazer em louvar-te; fizeste-nos para ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em ti".[3]

O soberano Senhor não compartilha a Sua glória com ninguém! O nosso orgulho é uma ofensa gravíssima ao nosso Deus. Não é em vão que Ele denúncia a Sua rejeição aos soberbos (Tg 4:6-10). Somente Ele é o Altíssimo, enquanto o pecador consegue em suas fúteis pretensões ser apenas uma ilusória altivez. Não podemos esquecer de que somos chamados para ser servos do Seu reino, e de que toda a abrangência de nossa vida está a Seu serviço (Rm 11:36).

O profeta Jeremias disse que "assim diz o SENHOR: não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em entender, e em me conhecer, que eu sou o SENHOR, que faço benevolência, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o SENHOR." (Jr 9:23-24).

Notas:
[1] Breve Catecismo de Westminster, perg./resp. 1
[2] Johannes G. Vos, Catecismo Maior de Westminster Comentado (Editora Os Puritanos), pág. 32
[3] João Calvino, Institutas, (edição estudo de 1541), vol. I, pág. 55
[4] Santo Agostinho, Confissões (Editora Paulus), vol. 10, pág. 19

Autor: Rev. Ewerton Barcelos Tokashiki

Fonte: http://tokashiki.blogspot.com/

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